A investigação da evolução genética do coronavírus pode ajudar na luta contra a pandemia de covid-19, sublinhou na rede social Twiter a cientista Lucy van Dorp, que estuda a evolução genética do ser humano e dos microrganismos que o afetam no University College de Londres, empregando técnicas de Biologia Computacional.
Van Dorp regozija-se pela mobilização das universidades britânicas num consórcio que visa sequenciar o genoma do víris SARS-CoV-2 e que já reuniu 1379 genomas do patogénico que causa a doença covid-19.
Estudá-los e às mutações que o coronavírus sofre à medida que se multiplica (de cada vez que se autocopia podem ocorrer “erros de transcrição”, que por vezes alteram a versão seguinte do vírus) pode ajudar a compreender a sua evolução e prever características de futuras estirpes.
Numa sequência de oito tweets inteligível para leigos, a cientista explica o que está em causa. Pode consultá-la abaixo.
É possível consultar a informação sobre os genomas do coronavírus na plataforma GISAID (acrónimo inglês de Iniciativa Global de Partilha de Toda a Informação sobre Gripe), onde cientistas, investigadores, universidades e autoridades públicas e privadas partilham dados clínicos e epidemiológicos sobre vírus da gripe e outros que afetam o ser humano e espécies animais.
Previsão é prevenção
Prever o seu comportamento é muito útil para prever ou lidar com epidemias e pandemias como covid-19 ou Ébola, por exemplo. É esse o propósito do projeto Nextstrain (à letra, próxima estirpe), uma plataforma aberta que reúne dados sobre vírus e ferramentas de análise e visualização para a comunidade científica, visando uma compreensão epidemiológica de cada surto.
Provém desse site a imagem que encabeça este texto, disponível na respetiva página de Internet em versão interativa. Note-se, para evitar confusões, que no site o SARS-Cov2 também é designado por hCov-19.
Com base nos vários genomas a filogenética (ramo da genética que estuda as relações evolucionárias entre organismos e grupos de organismos) constrói gráficos que descrevem tais laços e caracterizam cada estirpe de um vírus em circulação no mundo.
Recebendo contributos de todo o globo, cientistas aferem a similitude ou divergência, ao longo do tempo, entre os genomas de várias cadeias de coronavírus, identificando pontos quentes no planeta e fluxos de importação e exportação da doença e construindo mapas como o que se segue (também em versão interativa e com evolução cronológica no site da Nextstrain).
A natureza aberta e gratuita do Nextstrain leva a que cientistas tenham acesso imediato a toda a informação, podendo usar o código do site para adaptá-lo aos seus projetos. Também podem avaliar criticamente o contributo dos colegas, debatê-lo com eles e chegar a conclusões muito mais rapidamente do que com a tradicional divulgação em publicações científicas.
Tal permite ainda calcular as taxas de mutação do vírus, o que é crucial num momento em que a comunidade científica mundial se esforça por encontrar uma vacina para o SARS-Cov2 (por exemplo: terão de ser várias?). Também se pode perceber o efeito de variações sazonais (temperatura, movimentos de população) sobre o comportamento do vírus.
Cada vez mais contributos
A imagem que ilustra este texto mostra relações evolucionárias entre correntes de vírus da atual pandemia de covid-19, desde o surgimento inicial em Wuhan, na China, em novembro de 2019 até ao estado atual de expansão.
Há dias a revista “Wired” dava conta de como a partilha de dados levou cientistas em Seattle, nos Estados Unidos, a relacionar casos de covid-19 cuja associação era desconhecida até dos afetados, conduzindo à conclusão de que a propagação do coronavírus durava na região. “O Nextstrain pode servir para nos dar uma imagem instantânea de como o vírus se espalhou pelas regiões e como os surtos locais estão relacionados”, afirmou à revista americana o biólogo computacional Kristian G. Andersen.
“Laboratórios de todo o mundo estão a gerar, de forma sem precedentes, cada vez mais sequências genómicas e os respetivos dados clínicos e epidemiológicos associados ao novo coronavírus”, explica o sítio de Internet do Nextstrain. Estas sequências são “cruciais para conceber e avaliar testes diagnósticos, seguir e rastrear o surto em curso e identificar potenciais opções de intervenção”, escrevem os cientistas.