Na Catalunha, um parceria público-privada nascida já nestes tempos de surto vai produzir centenas de ventiladores. Em Portugal, um empresa de impressão 3D já está enviar viseiras para os hospitais que servem proteger os médicos do muito possível contágio com a covid-19 caso lhes faltem as proteções necessárias. Em Itália, um jovem engenheiro começou a imprimir em 3D as pequenas válvulas que ligam os ventiladores às reservas de oxigénio. Por todo o mundo surgem iniciativas que têm no centro a inovação tecnológica - e, claro, a capacidade de produzir rapidamente as peças necessárias para ajudar os médicos e os hospitais a cuidar de quem apresenta quadros clínicos mais graves.
Em Portugal, a empresa FAN3D já entregou 30 viseiras ao Hospital de Setúbal, mas entretanto começaram a receber pedidos “de todo o lado”, diz ao Expresso o diretor da empresa, Eurico Assunção. “Começou na quarta-feira quando uma enfermeira lá no meu prédio disse que a ala pediátrica do Hospital de Setúbal não tinha viseiras, então nós produzimos um protótipo, eles fizeram o turno de quinta com esse protótipo, mudámos o que eles disseram para mudar e fizemos 30 viseiras, que entregamos sem qualquer custo”. A história foi partilhada por muita gente e entretanto chegaram pedidos de Pinhal Novo (que já receberam esta segunda-feira 11 viseiras), do Garcia da Orta, Curry Cabral, Santa Maria, IPO do Porto, Hospital da Guarda. Agora é preciso “descentralizar” a produção e quem quiser imprimir estas viseiras de proteção pode simplesmente pedir o ficheiro à FAN3D e imprimir localmente estes materiais para entregar por todo o país.
Neste momento a empresa está também a produzir uma espécie de “pegas para as portas” em forma de “curva” para que os médicos possam mais facilmente abrir as portas com os braços, fazendo pressão sobre esse aparelho acoplado à porta e sem precisarem de utilizar as mãos. “Alguns médicos disseram-nos que estão sempre a trocar de luvas porque têm de abrir portas então pensamos que seria boa ideia desenvolver uma forma de evitar esses gastos de tempo e material”, concluiu Eurico Assunção. A empresa pede apenas ajuda às instituições hospitais para ajudarem a pagar, se lhes for possível, o material que as impressoras 3D utilizam, uma espécie de fibra plástica.
50 a 100 respiradores por dia
A Catalunha deve começar a fabricar respiradores com impressoras 3D a partir desta segunda-feira, depois que uma parceria público-privada ter resultado na descoberta de um protótipo já validado por médicos que pode ser fabricado em escala industrial. O novo aparelho foi desenhado para ser fácil de montar e usar e pode ser essencial para aquela ajuda mais imediata, quando não existam ventiladores mais complexos disponíveis para toda a gente em estado grave.
“É o chamado ‘respirador de campanha’, cujo design e componentes foram simplificados o mais possível, com o objetivo de desenvolver um dispositivo médico robusto, útil e menos complexo, através de uma produção e montagem mais fáceis", disse em comunicado o consórcio de empresas que está na base deste novo protótipo, o Zona Franca. Segundo os fabricantes deste respirador, será possível produzir entre 50 a 100 unidades por dia.
A ministra da Saúde da Catalunha, Alba Vergés, disse na noite de domingo que o protótipo foi projetado "em tempo recorde", admitindo que toda a ajuda é necessária para “um sistema à beira do colapso”.
Testar e produzir em tempo recorde
A situação em Itália, como temos visto em tantas reportagens e relatos dos médicos que estão na linha da frente do caos, é a mais preocupante do mundo mas também é lá que estão a surgir algumas das mais inovadoras respostas da sociedade civil. Cristian Fracassi, um engenheiro de Bréscia, uma das zonas mais afetadas, produziu 100 válvulas para respiradores em apenas um dia. “Soube das faltas, contactei o hospital no mesmo minuto, imprimi alguns protótipos, o hospital testou-os e estavam a funcionar”, disse Fracassi à Reuters.
O fabricante original destas válvulas disse que não tinha hipótese de produzir a quantidade necessária requisitada pelo hospital então Fracassi e um outro engenheiro, Alessandro Romaioli, parceiros na empresa Isinnova, decidiram fabricar “válvulas não oficiais” que entregaram ao Hospital de Chiari, perto de Bréscia.
Também em Nova Iorque, Isaac Budmen e Stephanie Keefe, que têm uma empresa de venda de impressoras 3D, começaram a usar o seu próprio material para imprimir viseiras para um dos pontos de teste que estão a surgir por todo o estado de Nova Iorque. Segundo o Post Standard de Syracusa, a dupla entregou a vários profissionais de saúde 300 exemplares destas proteções faciais.
Da República Checa também chegam histórias de engenho humano no topo da sua potência. Uma equipa de investigadores do Instituto Checo de Ciência da Computação, Robótica e Cibernética (CIIRC) desenvolveu um respirador de alta qualidade que pode ser impresso em impressoras 3D industriais ou produzido pela tecnologia de modelagem por injeção de material numa forma com o desenho de uma máscara.
O protótipo que surgiu no espaço de apenas uma semana atende a vários critérios importantes - além de poder ser produzido em qualquer impressora 3D das mais pequenas às industriais, é reutilizável, economiza material de filtro e é tão eficaz quanto as máscaras mais eficazes disponíveis no mercado (classificadas como FFP3 em todo o mundo). Além disso, este respirador é reutilizável após um procedimento simples de desinfecção e substituição do filtro.
Atualmente, existem oito impressoras com a respectiva tecnologia na República Checa e todas as empresas que as possuem já disponibilizaram ao governo a sua colaboração total. Se cada empresa produzir entre 50 a 60 máscaras destas por dia, as oito empresas podem conseguir enviar 500 exemplares por dia para os hospitais e outras instituições que necessitem.