Coronavírus

Covid-19. A morte de uma jovem de 13 anos, Espanha no mesmo caminho de Itália, a “exceção alemã” e uma pandemia a ganhar terreno

O número de infetados em todo o mundo com coronavírus ultrapassou esta segunda-feira os 370 mil, as mortes excederam as 16 mil e os recuperados os 100 mil. A China continua sem casos locais de infeção, enquanto Itália encerrou a produção não essencial em todo o país. Leia o resumo de mais um dia de covid-19 no mundo

HAFIDZ MUBARAK A/POOL/AFP

A pandemia do coronavírus “está a acelerar”: o alerta é da Organização Mundial de Saúde (OMS) e foi dado esta segunda-feira pelo seu diretor-geral, Tedros Adhanom Ghebreyesus. “Foram necessários 67 dias desde o primeiro caso reportado para se chegar aos 100 mil casos, 11 dias para os segundos 100 mil, e apenas quatro dias para os terceiros 100 mil”, sintetizou. “Precisamos de unidade entre os países do G20 que detêm mais de 80% do PIB global. Se não dermos prioridade à proteção dos trabalhadores de saúde, muitas pessoas vão morrer porque o profissional de saúde que poderia salvar-lhes as vidas está doente”, sublinhou o responsável.

Isto no dia em que o número de infetados ultrapassou os 370 mil, as mortes excederam as 16 mil e os recuperados os 100 mil. Itália, com mais de 63 mil casos, aproxima-se vertiginosamente do número de casos da China (81 mil), sendo que os óbitos em território italiano (mais de seis mil) já são quase o dobro dos registados em território chinês (mais de três mil). As autoridades de Pequim adiantaram que o país continua sem casos locais de infeção, enquanto as de Roma encerraram a produção não essencial em todo o país.

Com mais de 35 mil casos de infeção e mais de dois mil mortos, perceba aqui como Espanha entrou no mesmo caminho de Itália. Mais um dado que pode ajudar a explicar: idosos em lares espanhóis vivem no mesmo espaço que cadáveres que não são retirados dos quartos. O país renovou o estado de alarme por mais duas semanas.

Ainda em Espanha, morreu a atriz Lucía Bosé, aos 89 anos, num hospital de Segóvia. Outra vítima mortal da pandemia naquele país foi o ex-deputado José Folgado, que foi secretário de Estado da Energia nos governos de José María Aznar e presidente da Rede Elétrica.

O embaixador de Portugal em Espanha deixou um alerta, pedindo aos portugueses para evitarem viajar e ficarem em casa.

Em França, a agência nacional de saúde anunciou que três médicos morreram após terem contraído coronavírus.

Também o Parlamento Europeu comunicou a primeira morte por covid-19, estando a oferecer apoio psicológico aos seus funcionários.

Uma morte jovem

As autoridades do Panamá confirmaram a morte de uma rapariga de 13 anos, uma das vítimas mais jovens da pandemia. Os números registados a nível global indicam que a covid-19 é mais perigosa em doentes que já sofrem de problemas de saúde e entre a população mais idosa. No entanto, a morte da adolescente naquele país vem dar mais força aos alertas que têm sido lançados pelos especialistas: os jovens adultos e as crianças não estão imunes ao risco de contágio e de sofrerem consequências graves.

O Presidente dos EUA, Donald Trump, exortou os seus concidadãos a manterem-se unidos. “Quero que os americanos saibam que iremos ultrapassar este desafio. A vida normal regressará”, disse. Apesar de se ter referido continuamente ao coronavírus como um “vírus chinês”, Trump declarou que os americanos de origem asiática não devem ser responsabilizados. Trump assegurou que não deixará que “a cura seja pior do que o próprio problema”. “Este é um problema médico. Não vamos deixar que o coronavírus se transforme num problema financeiro de longa duração”, acrescentou. As autoridades norte-americanas de saúde registaram mais de uma centena de mortos num único dia, o que eleva o número de óbitos para 545 em todo o país.

O ex-produtor de cinema Harvey Weinstein, preso por violação e abuso sexual, está infetado com coronavírus. A informação chegou das autoridades penitenciárias do estado de Nova Iorque, onde cumpre uma pena de 23 anos de prisão.

No Reino Unido, o primeiro-ministro, Boris Johnson, indicou que só há cinco razões para se sair de casa: comprar comida, fazer exercício uma vez por dia, ir ao médico ou à farmácia, ir trabalhar (mas apenas se não for mesmo possível trabalhar a partir de casa) e ajudar pessoas vulneráveis. As saídas de casa em quaisquer outras circunstâncias estão proibidas. “Vamos chegar a um ponto em que nenhum sistema de saúde no mundo conseguirá lidar com este vírus”, prognosticou o chefe do Governo britânico.

A “exceção alemã”

Conheça neste link a “exceção alemã” e o que explica uma taxa de letalidade de apenas 0,3%. Angela Merkel recebeu o primeiro resultado dos testes, que deram negativo. A chanceler alemã está em quarentena desde domingo, depois de um médico com quem havia estado ter tido resultado positivo ao vírus. Entretanto, aperta-se o cerco a Merkel para que deite fora o tabu dos coronabonds. Um breve exercício de memória: em 2012, no auge da crise das dívidas soberanas, a chanceler garantiu que só por cima do seu cadáver haveria obrigações europeias que permitiriam mutualizar a dívida da zona euro. Agora, provavelmente terá de encontrar um coronabond, seja ele qual for.

Os ministros das Finanças dos 27 Estados-membros da União Europeia (UE) deram o seu aval à suspensão da disciplina orçamental, validando a proposta da Comissão Europeia que liberta os Governos das metas recomendadas do défice. O objetivo é aumentar a sua margem de manobra para que possam injetar mais dinheiro no combate à pandemia. Bruxelas fez saber que quer vias verdes nas fronteiras para o transporte de mercadorias. E a UE mostrou-se ainda preparada para ajudar financeiramente a Venezuela e o Irão, “que estão em maiores dificuldades devido a sanções”.

Apesar da mudança de estratégia da Comissão, as bolsas europeias abriram esta segunda-feira no vermelho. E as tecnológicas também tremem: apesar de serem um dos sectores mais dinâmicos em todo o mundo e dos mais capacitados para o teletrabalho, essas caraterísticas não as tornam imunes aos impactos da pandemia. Nos EUA, a Reserva Federal vai fazer compras sem limite.

Mais de mil milhões em casa

Segundo um balanço avançado pela Agência France-Presse, mais de mil milhões de pessoas em mais de 50 países ou territórios estão confinadas nas suas casas por ordem das respetivas autoridades. Mas a OMS alerta que o confinamento pode não chegar para derrotar o vírus.

No continente africano, o país mais afetado, a África do Sul, anunciou que os seus cidadãos estarão em isolamento a partir de quinta-feira. Na Etiópia, a estratégia passa por fechar as fronteiras terrestres.

Também na Índia há medidas mais apertadas de contenção e os voos internos ficam suspensos.

No Brasil, o Rio de Janeiro está em quarentena e apenas os supermercados e as farmácias ficam de portas abertas.

Jogos Olímpicos em dúvida

O dia também ficou marcado pela incógnita relativamente aos Jogos Olímpicos de Tóquio. O Canadá começou por assegurar que se as Olimpíadas se realizarem este ano, o país não enviará os seus atletas para Tóquio. O primeiro-ministro japonês declarou que “a anulação não é uma possibilidade”, mas reconheceu que o adiamento da competição “pode ser inevitável”. Em entrevista ao jornal “USA Today”, Dick Pound, o mais veterano dos membros do Comité Olímpico Internacional, disse que a decisão de adiar os Jogos “está tomada”. Já “é certo” que a prova, que deveria arrancar a 24 de julho, “não vai começar nessa data”, garantiu.

No ambiente, uma boa notícia: os índices de poluição descem significativamente em todo o mundo com a pandemia. Outra boa nova na linha do combate ao vírus através da impressão 3D: viseiras, máscaras e ventiladores estão a ser fabricados um pouco por todo o mundo, incluindo em Portugal.

Uma má notícia: o turismo perde diariamente um milhão de empregos a nível global.

E, a fechar, a OMS alerta para fraudes em plena pandemia.