O primeiro-ministro espanhol afirmou este domingo que a Europa terá de lançar um novo “Plano Marshall” para a economia recuperar após a pandemia do coronavírus. Pedro Sánchez, que falou após uma videoconferência com os presidentes das 17 regiões de Espanha e das cidades de Ceuta e Melilha, vai prolongar o estado de alerta vigente até 11 de abril e reforçar o papel do exército para garantir infraestruturas críticas e dar apoio logístico à distribuição de material sanitário.
“Esperamos que com esta medida tão [prolongar o confinamento] possamos vergar a curva do coronavírus. Espero que comecemos a ver mais longe, que o número de altas supere o de internamentos, que chegue a vacina”, afirmou o dirigente socialista. Descreve a situação como um “estado de guerra”. Sábado à noite avisara que “o pior está por vir”.
De sábado para domingo morreram em Espanha 375 pessoas, elevando o total para 1756. É o terceiro país com mais vítimas mortais. O número de infetados vai nos 28.603, dos quais 1785 em estado crítico, havendo 2125 recuperados. Madrid é a região mais afetada.
O governante mantém o apelo para que todos fiquem em casa, como “exemplo de patriotismo e solidariedade”, porque esta é “uma batalha para salvar vidas”. “O Governo está consciente dos efeitos psicológicos do confinamento”, assegurou.
Em defesa das eurobonds
Numa intervenção virada também para fora, Sánchez exigiu o envolvimento da União Europeia (UE) no combate à crise económica que a pandemia está a gerar: “A Europa tem de mobilizar recursos”. O próprio confessa-se em permanente equilíbrio entre “salvar vidas e a paragem da economia”.
Se na Grande Recessão de há dez anos os Estados-membros se dividiram entre bons e maus alunos, frisa, “esta é uma crise simétrica que afeta toda a UE. Temos de articular um grande Plano Marshall de reconstrução”. Emissão de eurobonds e criação de um fundo de desemprego comunitário devem estar contemplados, defende.
“Pedimos ao Banco Europeu de Investimentos que apoie os planos de liquidez”, anunciou o governante, que também pediu uma conferência ao presidente do G20. “Estamos a fazer um esforço fiscal extraordinario, mas é importante que não seja apenas a nível nacional. É uma grande oportunidade de legitimar o projeto europeu.”
12% dos doentes são profissionais de saúde
Sánchez garante que mobilizará “todos os recursos” para “recuperar quanto antes a nossa forma de vida”. Pedindo paciência aos espanhóis, sujeitos a medidas que reconhece serem “duríssimas”, alertou ainda para o perigo das notícias falsas e garantiu “total e absoluta” capacidade de autoabastecimento de equipamento de saúde, com “a cumplicidade das indústrias”.
O chefe do Executivo frisou iniciativas privadas para fornecer ventiladores e outros aparelhos a hospitais, a disponibilidade de 52 mil profissionais de saúde para apoiar as regiões. É que, como alertou o diretor do Centro de Coordenação de Alertas e Emergências de Saúde espanhol, Fernando Simón, “12% dos afetados são trabalhadores da saúde”: 3475 pessoas. O Governo espanhol adquiriu 640 mil testes rápidos de covid-19.
Da reunião com os 17 presidentes autonómicos resultaram outras medidas, como pôr sob controlo de cada governo regional os lares de terceira idade privados; generalizar restrições às viagens durante um mês; envolver as forças armadas no transporte de doentes; instituir um serviço de alimentação ao domicílio a pessoas em grupos de risco; e estabelecer uma reserva estratégica de produtos sanitários.