Coronavírus

Desagradada com medidas do governo, Confederação do Comércio dá luz verde a despedimentos

CCP fala de “profundo desprezo a que foi votado o sector do comércio e de muitos serviços” e admite que a falta de apoios justifica despedimentos

João Vieira Lopes, presidente da CCP - Confederação do Comércio e Serviços de Portugal
Nuno Botelho

“A Confederação do Comércio e Serviços de Portugal, CCP, ao tomar conhecimento das linhas de crédito anunciadas pelo governo, em concreto da distribuição sectorial dos montantes agora disponibilizados, considera inaceitável o profundo o desprezo a que foi votado o sector do comércio e de muitos serviços”, diz esta estrutura patronal em comunicado.

O quadro criado leva a CCP a aconselhar “os empresários a não adiarem decisões (como aconteceu, por exemplo, no período de ajustamento) e a adotarem uma política de redução rápida de custos, nomeadamente laborais, de forma a minimizar as dificuldades com que estão confrontados”, afirma.

E isto significa despedimentos? “Sim”, responde claramente ao Expresso o presidente da CCP, João Vieira Lopes. “No período de intervenção da Troika fizemos um esforço para manter os postos de trabalho, ficando fora da linha de crédito, temos de atuar de outra forma”, justifica.

Num momento em que os diferentes sectores ainda estão a digerir e a analisar o pacote de medidas de estimula à economia anunciado pelo Governo esta manhã, a posição de descontentamento da CCP, a admitir despedimentos como consequência direta da exclusão da linha de crédito, é para já um caso isolado, mas a indústria dos componentes automóveis também já manifestou “estranheza por o sector ter sido esquecido”.

A CCP recorda que só o sector do comércio representa mais de 700 mil activos, dos quais meio milhão trabalham em micro e pme do sector , havendo uns 220 mil afetos à distribuição alimentar, e os restantes serviços empregam ainda mais de um milhão de trabalhadores.

Ao todo, João Vieira Lopes estima que nas áreas de atividade representadas pela CCP estão em causa 1,7 milhões de postos de trabalho. No que se refere a empresas, “no caso do comércio e serviços são 200 mil que ficam de fora. Só salões de cabeleireiro a fechar devido à pandemia, temos 10 mil de norte a sul do país”, acrescenta.

Esta manhã os ministros da Economia e das Finanças anunciaram um pacote global de 9,2 mil milhões de euros, distribuídas entre linhas de crédito, adiamento de prazos de pagamento de impostos e de contribuições para a segurança social, além de estar a negociar com a banca a possibilidade de empresas e famílias em dificuldades possam adiar o pagamento das dívidas, sem custos acrescidos.

Há medidas que são transversais a todos os setores de atividade, onde se inclui o comércio e serviços, mas a parcela destinada a linhas de crédito a conceder pela banca apenas se dirige a setores específicos como a restauração, o turismo e a indústria.