O Sindicato dos Estivadores e da Atividade Logística (SEAL) anunciou hoje o prolongamento da greve no Porto de Lisboa até 13 de abril. É uma decisão contra o que o sindicato considera ser “um despedimento coletivo encapotado”, num quadro de pandemia em que também diz faltarem meios para os estivadores se protegerem da Covid-19.
A justificar o prolongamento da greve total iniciada no dia 9 de 30 de março para 13 de abril o SEAL refere que o quadro não se alterou e continua a haver atraso no pagamento de salários, incumprimento incumprimento do acordo de 2018 e o pedido de insolvência da A-ETPL, Associação-Empresa de Trabalho Portuário de Lisboa em cima da mesa, deixando um cenário de despedimento coletivo no ar.
Sobre as medidas de proteção dos estivadores face ao risco de contágio de Covid-19, António Mariano, presidente do SEAL, adiantou em declarações à Agêncioa Lusa que algumas empresas do grupo Yilport já estão a disponibilizar máscaras e luvas, mas há outras empresas de estiva que hoje de manhã ainda não tinham disponibilizado esses meios, apesar dos navios serem considerados um ponto potencial de contagio,
“Não há nenhum tipo de restrições para os navios da marinha do comércio, não é feito nenhum controlo térmico das tripulações nem é feito nenhum tipo de despistagem da Covid-19. E isso é uma coisa que não compreendemos”, diz o dirigente do SEAL.
Os estivadores do Porto de Lisboa contam, nesta fase, com o apoio dos colegas do Porto de Setúbal, que iniciaram hoje um período de greves parciais em solidariedade para com os estivadores de Lisboa,que não abrange os navios da Autoeuropa.
Resposta à AOPL
A tomada de posição surge depois de "os patrões terem decidido usar a pandemia como pretexto para apelar ao fim da greve, sem nada mudarem", explica ao Expresso fonte da direçao do SEAL.
Em causa, está um comunicado da Associação de Operadores do Porto de Lisboa (AOPL), a " sensibilizar os Trabalhadores Portuários de Lisboa e o sindicato que os representa para, neste momento, em que a Organização Mundial de Saúde (OMS) decretou o Estado de Pandemia do Coronavírus e o Governo de Portugal declarou que o País se encontra em situação de alerta até ao dia 9 de abril - à semelhança do que aconteceu com todos os outros grupos profissionais que se encontravam em greve ou tinham agendado formas de luta - contribuam com o sentido de consciência cívica e solidariedade e cancelem a greve total em curso no Porto de Lisboa".
Domingo, numa carta aberta enviada ao presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o SEAL dava já conta das razões da sua luta, denunciando o que considera ser um "contexto de guerrilha laboral".
E alertava: "Apesar de reconhecermos que o Governo português tomou medidas acertadas relativamente aos navios de cruzeiro – impedimento do desembarque de passageiros e tripulantes –, incompreensivelmente, nada fez no que respeita aos navios comerciais, onde potencialmente existe um elevado risco de contaminação das suas tripulações, fruto dos portos inseridos em países de risco escalados por esses mesmos navios, desde os asiáticos, até aos italianos e espanhóis".
Sines e Lisboa no centro das atenções
"A direcção do SEAL tem a percepção de que o porto de Sines representa um risco potencial acrescido no contexto nacional relativamente a estas matérias que a todos deviam preocupar, razão pela qual um director local deste Sindicato vem tentando desde há cerca de mês e meio reunir com o sr. Presidente da Câmara de Sines, com responsáveis da APS – Administração do Porto de Sines bem como com a Autoridade local de Saúde", acrescenta.
Neste esforço, relata o sindicato, o seu director do SEAL apenas conseguiu agendar uma reunião com a responsável regional da DGS – Direcção Geral de Saúde, "no decurso da qual chegou à conclusão de que era do seu total desconhecimento o facto de as tripulações dos navios poderem ser substituídas – e frequentemente tal acontece – em qualquer porto do mundo, pelo que será – mais do que irrelevante – erróneo considerar que a tripulação do navio já terá cumprido uma quarentena válida para a despistagem do COVID-19 pelo facto de uma viagem entre portos asiáticos e Sines poder demorar aproximadamente 3 semanas".
E sobre o Porto de Lisboa, acrescenta: " nos primeiros dias de declaração da pandemia – após semanas do estádio de epidemia – com o país a começar a entrar em quarentena, os estivadores de Lisboa, com centena e meia deles a realizar serviços mínimos sem o salário de Fevereiro pago, constatam que os terminais portuários não dispõem de gel desinfectante, muito menos de metodologias de despiste de temperatura corporal das tripulações ou descontaminação de instalações portuárias que portos na Ásia, na Europa e na América têm vindo a adoptar".
"Para que possamos continuar a trabalhar com o orgulho com que desempenhamos a nossa profissão, necessitamos de ferramentas e condições seguras para proteger o país dos riscos de a continuarmos a exercer, desprotegidos, debaixo do fogo da pandemia", conclui o SEAL.