Sociedade

Tempestade Martinho: mais de 5800 ocorrências durante a noite, rede elétrica com cortes, linha de Cascais suspensa e 13 desalojados

Durante a madrugada, o vento forte provocou queda de árvores (mais de metade das ocorrências registadas) e estruturas, deixando 13 pessoas sem casa na Lourinhã. Circulação está limitada em Lisboa e há várias paralisações de comboios

ANTÓNIO PEDRO SANTOS

Portugal está sob efeito da depressão Martinho, que obrigou a avisos quanto ao vento forte, chuva forte e forte ondulação, e as consequências são variadas e mais concentradas nos distritos de Lisboa, Leiria e Setúbal. Na Lourinhã, 13 pessoas ficaram desalojadas.

Em todo o país foram registadas mais de 5800 ocorrências entre a meia-noite e as onze da manhã, já nesta quinta-feira, obrigando à mobilização de 14.560 operacionais.

"Temos o registo acumulado desde as 00:00 de dia 19 até às 07:00 de dia 20 de 4.214 ocorrências das quais 2.314 quedas de árvores, 1.169 quedas de estruturas, 643 limpezas de via, 45 movimentos massa e 38 inundações", disse à agência Lusa José Miranda, da ANEPC (Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil).

Segundo José Miranda, as regiões mais afetadas foram a Sub-Região da Grande Lisboa com 1.452 ocorrências, a Península de Setúbal com 456 e a Sub-Região do Oeste com 329.

Grande parte dos casos tiveram lugar na região da Grande Lisboa (35%) e Setúbal (10%). Estes são números que "ultrapassam a média de ocorrências em fenómenos deste género", diz a Autoridade Nacional da Proteção Civil.

"O que esperamos para os próximos dias é chuva e vento muito forte, com alguns agravamentos possíveis até sábado. Não se descartam fenómenos de vento extremo no litoral, centro e sul do país. A agitação marítima vai manter-se", garante Alexandre Penha, adjunto de operações da Autoridade Nacional da Proteção Civil.

Alexandre Penha recomenda que a população evite deslocações desnecessárias nos próximos dias e a limpeza dos sistemas de drenagem que tenham sido afetados durante esta madrugada.

Alerta para que, nos próximos dias, a drenagem das bacias leve a um grande aumento do caudal dos rios, havendo perigo de inundações, com particular atenção para os rios Mondego, Tejo e Guadiana.

A rede elétrica de 82 mil clientes da E-Redes estava às 07:30 de hoje com grandes constrangimentos, sendo os distritos de Leiria, Coimbra e Viana do Castelo os mais afetados, informou a empresa do grupo EDP.

"Cerca das 22:00, os efeitos da tempestade Martinho começaram a causar grandes constrangimentos na rede elétrica, sobretudo na zona centro sul, progredindo progressivamente para norte, ao longo da madrugada de dia 20 [hoje]", refere a E-Redes em resposta à agência Lusa.

De acordo com a empresa, a situação pior ocorreu pelas 01:00, quando 185 mil clientes ficaram com perturbações no fornecimento de energia.

"A esta hora [08:00] estamos com a rede mais estabilizada, face ao período noturno, mas ainda não conseguimos prever quando ocorrerá a reposição integral, algo que acompanharemos e informaremos melhor ao longo dia", indicou a E-Redes.

A empresa diz ter ativado na quarta-feira o seu Plano Operacional de Atuação em Crise, estando todo o dispositivo operacional dedicado ao estado de alerta em vigor, em estreita articulação com a proteção civil e demais autoridades.

Comboios paralisados, trânsito congestionado

Na região da capital, a circulação ferroviária está bastante afetada. A linha de Cascais está suspensa devido aos efeitos do mau tempo, devido "à queda de uma árvore numa catenária", o sistema de cabos de distribuição e alimentação aérea dos comboios.

A circulação do comboio da Ponte 25 da Abril esteve suspensa desde as 06h00, mas foi retomada a partir das 07h25, mas com "atrasos significativos", informou a Fertagus, empresa responsável pela travessa rodoviária do Tejo, através das redes sociais.

Às 06h00, a circulação estava apenas a ser feita entre as estações de Coina e Setúbal, mas com constrangimentos. Durante a madrugada, o comboio com partida de Roma Areeiro, às 01h23, fico retido em Campolide devido aos ventos superiores a 90 quilómetros por hora, tendo a circulação sido retomada pelas 03h00.

A circulação foi retomada nas linhas do Douro e do Vouga, depois de ter estado suspensa devido ao mau tempo, informou a Infraestruturas de Portugal (IP), acrescentando mais linhas ferroviárias à lista das afetadas.

Num ponto de situação que reporta a informação recolhida pelas 8h30, a IP indica que se mantinha ainda suspensa a circulação ferroviária na Linha da Beira Alta, entre Guarda e Celorico da Beira, e na Linha do Sul, entre Pinheiro e Vale do Guizo.

Segundo a informação publicada pela empresa nas redes sociais, também a Linha do Alentejo, entre Barreiro e Pinhal Novo, e o Ramal de Tomar, entre Lamarosa e tomar, continuavam com a circulação suspensa.

Com constrangimentos mantinha-se a Linha do Norte, entre Bobadela e Alverca, uma zona de quatro vias onde os comboios apenas circulam em duas.

Pontes da Grande Lisboa com velocidades limitadas

Dos comboios para a estrada, a Ponte 25 de Abril e a Ponte Vasco da Gama estão com velocidades limitadas, disse a ANEPC.

" A Ponte 25 de Abril está com velocidade máxima de 60 quilómetros por hora e a Vasco da Gama 80. Estamos a desaconselhar a circulação naquelas pontes de veículos pesados com lona e motociclos", adiantou.

A forte ondulação obrigou ao fecho de 18 barras marítimas, a maioria no norte e sul de Portugal continental, segundo o 'site' da Marinha.

Estão fechadas as barras de Caminha, Douro, Esposende, Vila Praia de Âncora, Póvoa do Varzim, Vila do Conde, Portinho da Ericeira, Peniche, São Martinho do Porto.

Na região sul, estão fechadas as barras de Albufeira, Alvor, Vila Real de Santo António, Faro, Lagos, Olhão, Quarteira, Tavira e Vila Moura. Estão abertas 25 barras e quatro estão condicionadas.

Desalojados na Lourinhã

Treze pessoas ficaram desalojadas na sequência de danos provocados pelos ventos fortes na habitação em que residem em Miragaia, concelho da Lourinhã, disse hoje fonte do Sub-Comando de Emergência e Proteção Civil do Oeste.

Pelas 02:00, os ventos fortes "provocaram danos na habitação, o telhado foi arrancado e 13 pessoas ficaram desalojadas, tendo sido realojadas pela Proteção Civil na Pousada da Juventude da Praia da Areia Branca, disse a mesma fonte à agência Lusa.

No local, estiveram oito operacionais e cinco veículos dos bombeiros, câmara municipal e GNR.

A Proteção Civil vai hoje fazer uma avaliação dos danos na habitação.

Pelas 21:00 de quarta-feira, a queda de várias árvores de grande ao quilómetro 58 da autoestrada A8, no sentido Sul-Norte, provocou um acidente rodoviário, que causou um ferido ligeiro.

A vítima foi assistida no local, sem ter sido transportada ao hospital.

A A8 esteve interrompida ao trânsito entre as 21:00 e as 22:40.

Na ocorrência, estiveram 13 operacionais e seis veículos dos bombeiros, da concessionária Auto-Estradas do Atlântico e da GNR.

Portugal continental está desde o fim de quarta-feira sob aviso laranja devido ao vento forte causado pela depressão Martinho.

Estádios atingidos

A tempestade Martinho, que causou mais de 4000 ocorrências em todo o país, causou estragos na cobertura do estádio do Rio Ave, em Vila do Conde. A equipa volta a jogar em casa no próximo dia 7 de abril, contra o Boavista, depois da paragem das competições nacionais para os compromissos das seleções.

Na aldeia de Nogueira do Cravo, em Oliveira do Hospital, o estádio de Santo António, casa da Associação Desportiva Nogueirense, as rajadas de vento fizeram também voar a cobertura metálica, também sem vítimas a registar.

Estádio de Santo António, esta madrugada

Atualizado às 12h28.