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Sociedade

Agitação pop e propaganda

O frágil equilíbrio entre música e política pode estar prestes a ceder

As unhas de Iolanda, alegadamente com as cores da Palestina, desapareceram da plataforma em que eram publicadas as atuações
Jessica Gow/TT News Agency/AFP via Getty Images

A Eurovisão enquanto palco das mais variadas manobras diplomáticas é uma ideia antiga. Tão antiga quanto o próprio concurso de cantigas pan-europeu. Já em 1967 havia quem em Portugal pensasse nisso. Eduardo Nascimento, o intérprete português que foi defender a canção ‘O Vento Mudou’, ficou para a história como o primeiro negro a participar no concurso. Eduardo era natural de Angola, onde, em Luanda, se tornou o líder do grupo musical Os Rocks. E o Estado Novo acreditou que a sua ida a Viena de Áustria seria uma excelente oca­sião para demonstrar à Europa e ao mundo que a metrópole e os territórios ultramarinos eram coisa una e indizível, não fazendo por isso grande sentido a guerra que desde o início da década estava montada pelos movimentos de libertação. Não éramos os únicos a considerar aquela competição entre países como uma plataforma útil para a representação de ideais políticos.