Aos 14 anos, é a terceira vez que Francisco Vera Manzanares está na COP como participante. A primeira foi em Glasgow (COP26, em 2021), onde discursou sobre a tragédia da desflorestação perante os líderes mundiais presentes. A segunda, foi no Egito, no ano passado.
É no pavilhão da UNICEF, no recinto da 28.ª Cimeira do Clima que decorre no Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, que o Expresso o encontra. Está acompanhado pela mãe que nada interfere enquanto o jovem hiperdotado, que fala espanhol, português e inglês perfeitos, explica o seu entusiasmo na vontade de proteger a natureza e o ambiente e defender a justiça climática.
Desde junho deste ano que foi nomeado pela UNICEF como defensor juvenil do ambiente e da ação climática na América Latina e Caraíbas.
Tinha 9 anos e vivia a uma centena de quilómetros de Bogotá, rodeado pela natureza, quando criou o movimento ambiental “Guardiões pela Vida”, juntamente com um grupo de amigos da escola. Nesse ano, “os incêndios na Amazónia e na Austrália” marcaram-no, conta, e levaram-no a querer agir pelo ambiente.
Um ano depois, já discursava pela primeira vez no Senado da Colômbia “para pedir aos políticos do que legislassem contra a desflorestação, os maus-tratos aos animais, o fracking [raturamento hidráulico] e os plásticos descartáveis”, diz. Aos 12, era congratulado pelo seu ativismo por Michelle Bachelet, ex-presidente do Chile e, na altura, Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos.
Hoje em dia vive em Barcelona, em Espanha, como uma espécie de refugiado, depois de ver a sua vida ameaçada por ser um ativista ambiental na Colômbia. Francisco prefere não entrar em pormenores sobre o tema, por uma questão de proteção. Sempre com um sorriso no rosto, apenas frisa que “na Colômbia e na América Latina em geral é muito difícil ser-se ativista ambiental e defensor dos direitos humanos”, mas isso não o deixa menos orgulhoso ser colombiano.
Só em 2022, a organização Global Witness (sediada no Reino Unido) estima que pelo menos 177 ambientalistas foram mortos por tentarem proteger o planeta, 88% dos quais na América Latina.
O jovem de 14 anos, com ar de criança e discurso de muito mais crescido, reconhece que apesar de a situação ser mais dramática para os ativistas em alguns países do sul, “a polarização em torno do ativismo climático leva a um ressentimento social que se volta contra os ativistas”, o que lamenta. A sua ação mais disruptiva foi participar numa manifestação com cartazes frente aos portões de uma petrolífera colombiana, tinha 10 anos.
Demonstrando ser um “otimista”, está confiante que até ao fim desta COP 28 será possível empurrar “as decisões para um acordo pela eliminação dos combustíveis fósseis”. Confessa que mantém um “sentimento de esperança perante a humanidade” e é isso que o afasta da ecoansiedade de que sofrem muitos jovens. “Temos de pensar no futuro das próximas gerações e esse tem de ser um futuro num planeta limpo e saudável porque as crianças o merecem”. “A ciência diz que a ação climática real é necessária [reduzir para metade as emissões de gases de efeito de estufa até 2030] e que temos que acabar com os combustíveis fósseis, mesmo que com um calendário gradual.”
Filho de uma trabalhadora social e de um advogado, não gosta de ser visto como “um menino com capacidades especiais”. Para Francisco, “todas as crianças e jovens têm estas capacidades, mas nem sempre a oportunidade para usá-las”.
Depois desta pausa, Francisco regressará a Barcelona para acabar o nono ano de escolaridade. Quanto ao seu futuro, diz querer ser cientista.