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COP28: Entre a vontade de um “feito histórico" e o receio de uma deceção, o resultado da Cimeira do Dubai continua num limbo

A dois dias do fim ainda é incerto o desfecho. A secretária de Estado da Energia e Clima, Ana Fontoura, mostra-se confiante no empenho do presidente da COP28 e dos países em encontrar uma solução. Esta segunda-feira, é a vez de o secretário-geral da ONU regressar ao Dubai para acelerar o processo.

MARTIN DIVISEK

A cerca de 48 horas do fim, nada é certo em termos de resultados na Cimeira do Clima (COP28) que decorre no Dubai. O controverso presidente designado pelo país anfitrião, Sultan Al Jaber – simultaneamente CEO da empresa petrolífera Adnoc – mostrou-se este domingo insatisfeito com a velocidade das negociações e tentou apressar o passo para que os 197 países presentes saiam do impasse em que estão.

Al Jaber reforçou que estão “a fazer bons progressos”, mas admitiu não estar “satisfeito com a velocidade e o ritmo” prosseguidos. Depois de acossado, o anfitrião quer marcar pontos.

O futuro dos combustíveis fósseis e se há ou não acordo para que sejam eliminados dentro de um prazo determinado ainda estão por acordar. Tal como o financiamento e os objetivos para a adaptação a eventos extremos e uma série de pacotes de financiamento de combate às alterações climáticas.

O único feito até agora mantém-se o do primeiro dia: o acordo para operacionalizar o Fundo para Perdas e Danos. Começou nos perto de 400 milhões de dólares e este domingo ainda não tinha duplicado esse valor, quando são necessários pelo menos 400 mil milhões de dólares por ano para ajudar os países que já sofrerem perdas e danos com a crise climática em curso.

Chegar a um consenso entre 197 países não é tarefa fácil, admite a secretária de Estado da Energia e Clima, Ana Fontoura Gouveia. Porém, mostra-se convicta de que Al Jaber quer mesmo ter um acordo assinado até 12 de dezembro e que “os países estão muito empenhados em encontrar uma solução”. E lembra que há a noção transmitida pela ciência de que “temos de agir agora”, já que “esta é uma década crítica se queremos cumprir os objetivos climáticos”.

A delegação portuguesa, chefiada na reta final pelo Ministro do Ambiente e Ação Climática Duarte Cordeiro e por Ana Fontoura, tem a seu cargo (em conjunto com a delegação da Alemanha) representar a posição da União Europeia no dossiê da mitigação nas reuniões bilaterais. Em cima da mesa, a UE propõe que se atinja o pico de emissões até 2025, reduza as emissões em 43% até 2030 e elimine os combustíveis fósseis até 2050.

Sabem que outros países, nomeadamente produtores de petróleo e de gás, têm uma visão diferente e defendem soluções para que se continue a emitir o que não se conseguir abater com recurso a tecnologias de captura de carbono associadas à indústria de combustíveis fósseis. Porém, frisa Ana Fontoura, estas “são muito caras, ou na verdade ainda inexistentes”. E reitera que o objetivo nas próximas menos de 48 horas é “conseguir encontrar uma linguagem comum”.

O secretário-geral da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), Haitham al-Ghais, apelou aos 13 membros da organização para rejeitarem qualquer texto que vise combustíveis fósseis, em vez das “emissões”.

O rascunho do documento final que está em cima da mesa continua a conter uma variedade de hipóteses para os diferentes parágrafos que ainda têm de ser alvo de “muitas discussões bilaterais para aproximarem posições”. Isto porque, explica a secretária de Estado aos jornalistas, “aquilo que são as visões nacionais, não são necessariamente convergentes”.

Por exemplo, explica, “para a União Europeia as tecnologias de captura de carbono, para abatimento de emissões, só devem ser usadas nos casos em que de facto não temos outra alternativa, como por exemplo, na indústria do cimento, ou na indústria química”.

Esta segunda-feira de manhã será a vez do secretário executivo da ONU para as Alterações Climáticas, Simon Stiell voltar a fazer um ponto de situação. E no final da manhã, a palavra será do secretário-geral da ONU, António Guterres.

*A jornalista viajou a convite da Fundação Oceano Azul