Bastou um singelo “tweet” de Paddy Cosgrave, o principal rosto do Web Summit, sobre a guerra entre Israel e a Palestina, para rebentar uma polémica que levou ao boicote de Israel e consequente cancelamento da participação no evento de oradores mundiais de peso, como estrelas de Hollywood, até líderes de empresas gigantes da tecnologia como Amazon, Apple, Microsoft, Google, Meta, IBM, Intel, Siemens, SAP, Oracle, Salesforce e Stripe foram algumas das perdas de peso. Isto a par de nomes relevantes de vários investidores e oradores. Uma das desistências mais recentes é a Volkswagen. A sangria de presenças parece continuar, mas os bilhetes continuam a ser vendidos. E o evento vai mesmo realizar-se de 13 a 16 de Novembro, no Altice Arena, em Lisboa.
Ao mesmo tempo estão a ser anunciados novos oradores. Cristina Ferreira é um novo nome avançado, um regresso inesperado depois da sua participação na edição de 2021 com uma bifana na mão para ilustrar o seu discurso motivacional. “A última regra é esquecer todas as regras. Mesmo que a minha carreira na televisão acabe e tenha de começar de novo, tudo bem! Como? Vou vender bifanas. E garanto que serei a melhor vendedora de bifanas”, afirmou sem a bifana da modéstia. “Seja o que for, tudo aquilo que fizer a seguir, sei que vou ser a melhor.”
A participação de um robô com Inteligência Artifical (IA) de topo junto com painéis que discutirão o futuro da IA, são trunfos novos deste evento. “A ‘AI Academy’ cobre as últimas tendências, dicas e desenvolvimentos tecnológicos de especialistas do setor que ultrapassam os limites da inteligência artificial. De redes neurais a viés algorítmico e ética de dados (...) esteja na vanguarda da revolução da IA.” pode ler-se no site da Web Summit, esperando-se nesta edição a presença de uma versão melhorada do robô Sophia, que marcou presença em 2019.
Na lista de presenças políticas nacionais, estão confirmados Marcelo Rebelo de Sousa, António Costa e Carlos Moedas. E do panorama artístico internacional destacam-se o ator americano Ben McKenzie, conhecido por interpretar o papel principal de James Gordon em Gotham, série baseada nos personagens da mitologia do super-herói Batman, e o cineasta, escritor, argumentista e produtor irlandês, Neil Jordan, que entre inúmeros prémios no cinema recebeu dois Óscares pelo filme “Jogo de Lágrimas”, de 1992.
Importa recordar que mesmo antes dos despedimentos internos, a Web Summit já perdia oradores, como a atriz Gillian Anderson, o ator e empresário Joseph Gordon-Levitt, a comediante Amy Poehler ou o ator e músico LL Cool J. Da mesma forma, executivos como Nick Clegg, da Meta, não aparecem mais na lista de inscritos da edição deste ano, depois de a proprietária do Facebook ter anunciado que não estaria presente.
Entretanto, a turbulência interna na empresa não para, e o jornal “Irish Times” noticia que o conselho da Web Summit solicitou que o ex-presidente-executivo Paddy Cosgrave vendesse a sua participação na empresa ou correria o risco de colocar mais de 300 empregos em risco.
David Kelly e Daire Hickey, que detêm respectivamente 7 por cento e 12 por cento da empresa responsável pela conferência de Lisboa, terão escrito ao conselho de administração para expressar preocupações de sobre a continuação de Cosgrave na empresa pois esta coloca, na sua perspectiva, o futuro da Web Summit em perigo.
E pediram ao conselho que explorasse todos os caminhos possíveis, incluindo uma venda, se necessário. De momento Cosgrave detém os 81% restantes da empresa. A Web Summit foi fundadada em 2009, mas desde então ambos deixaram a empresa e há ações judiciais pendentes nos tribunais irlandeses.
Recorde-se que o tweet que originou toda esta polémica, desistências e avalanche de críticas, publicado no passado dia 13 de outubro, dizia na rede social X: "Estou chocado com a retórica e as ações de tantos líderes e governos ocidentais, com exceção, em particular, do governo da Irlanda, que, por uma vez, está a agir corretamente. Os crimes de guerra são crimes de guerra, mesmo quando cometidos por aliados, e devem ser denunciados pelo que são.”
Depois de Lisboa, o Web Summitt vai realizar-se no Catar, em 2024.