Lisboa, Porto, Coimbra, Braga, Odemira, Vila Nova de Poiares e Sertã serão os palcos para os sete protestos convocados para este domingo por um grupo de cidadãos contra o que consideram ser “o papel da fileira do eucalipto e das celuloses no flagelo dos incêndios florestais em Portugal”. Mais de 60 pessoas de diferentes idades, profissões e origens já assinaram o manifesto, que convoca outros cidadãos para um “sobressalto”.
O protesto está marcado para a tarde de 3 de setembro, com diferentes horários consoante as localidades, e pretende chamar a atenção para “o agravamento da crise climática, dos incêndios e da degradação da floresta”.
Entre os ativistas está Beatriz Xavier, estudante de Sociologia de 19 anos e membro dos coletivos Greve Climática Estudantil e Climáximo, que diz ao Expresso o que os move: “uma preocupação enorme com este estado de coisas, em que não vimos alterações na paisagem florestal e assistimos, desde 2017, ao reforço de meios de combate de incêndios mas que funcionam como pensos rápidos numa ferida aberta.”
No manifesto escrevem que “a destruição de áreas rurais, comunidades e territórios continua após décadas de avisos, de pareceres, de discussões, de traições e desprezo” e que “o estado de degradação da floresta portuguesa continua a ser condição fundamental para a catástrofe: abandono, monoculturas industriais, espécies invasoras, degradação dos serviços de proteção e vigilância, desinvestimento no interior”. Também sublinham que, “em cima disto, a seca engole o país devido à crise climática e o calor torna tudo mais frágil”, considerando que os incêndios que ocorreram este ano em Odemira, Proença-a-Nova, Monchique, Cadaval, "são a manifestação disto”.
Lembram que “em ciclos cada vez mais curtos o nosso país está exposto a incêndios catastróficos que têm responsáveis”. E para as/os signatárias/os do manifesto, os responsáveis pela atual situação são os governos sucessivos, entre os quais o atual, que dizem ser "incapaz de reagir, mantendo tudo igual”, e as empresas de celulose Navigator e Altri, “às quais os governantes estenderam a passadeira”.
No manifesto acusam estas empresas de continuarem a “exigir mais área de eucaliptais, quando já têm um milhão de hectares com eucalipto, a maior área relativa de eucalipto do mundo”. E defendem que “Portugal precisa de construir uma floresta para um futuro mais quente e mais seco” e que isto significa “deseucaliptizar” cerca de 700 mil hectares de eucaliptais e “plantar florestas de carvalhos, castanheiros, vidoeiros, pinheiros mansos, zambujeiros, montados de sobreiros, azinheiras, figueiras, e muitas outras árvores, de diversidade adaptada aos terrenos para garantir resiliência”.
Além das empresas de celulose, os signatários do manifesto também responsabilizam a GALP e a EDP por “continuarem a agravar a crise climática com as suas atividades destruidoras e extrativistas durante décadas, lucrando como nunca e rejeitando os cortes de emissões necessários para travar o caos no clima”.