A equipa portuguesa destacada para ajudar nas operações de busca e salvamento na Turquia, atingida por dois sismos, chegou este sábado a Lisboa com o espírito de "missão cumprida", porque agora é difícil encontrar alguém com vida debaixo dos escombros. "Foi assim que chegámos ao fim desta missão, com o dever cumprido. A janela da percentagem de sobrevivência está completamente fechada. Se aparece alguém vivo, felizmente essa pessoa teve acesso a água. De outra maneira é impossível sobreviver a uma situação daquelas", disse aos jornalistas o comandante da missão portuguesa, José Guilherme.
A Força Operacional Conjunta (FOCON) - coordenada pela Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) e composta por 52 elementos da Força Especial de Proteção Civil da ANEPC, GNR, Regimento de Sapadores Bombeiros de Lisboa e Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) e por seis cães -- esteve mais de uma semana na cidade turca de Antáquia, atingida em 06 de fevereiro por dois fortes sismos.
O comandante afirmou que estas missões têm o seu tempo e que "chegou o momento de desligar o interruptor e passar ao passo seguinte", uma vez que estas equipas, como a portuguesa, estão formatadas para a busca e salvamento de vidas. "O trabalho que está a ser feito é a remoção de destroços, que tem de ser o mais rapidamente possível, porque brevemente aquele povo vai ter um problema mais grave que é de saúde pública", precisou.
História de um salvamento
José Guilherme recordou o salvamento da criança de 10 anos como o momento mais importante da missão. "Durante umas buscas que andávamos a fazer num dos setores na zona baixa de Antáquia, os cães detetaram, ao princípio, também a pedido dos populares, um corpo. A equipa esteve ali um bocado a fazer o reconhecimento até que foi alertada, também por um popular, que supostamente havia uma vítima ali uns metros ao lado. De imediato enviámos a primeira equipa para a primeira avaliação, os cães fizeram a deteção, fizemos o reforço e, a partir daí, desenvolveu-se todo um trabalho de equipa até chegarmos ao pequenino Baran. Naquele momento éramos todos Baran e tínhamos todos 10 anos", recordou.
O comandante sublinhou que "valeu a pena", por terem salvado uma vida, mas também por terem encontrado nos escombros corpos e conseguido entregar alguns às famílias. "Encontrámos alguns corpos e entregámos alguns a famílias. Isso também fez com que a nossa motivação subisse ao ver aquele povo poder fazer o seu luto no meio daquela catástrofe", afirmou.
Jose Guilherme destacou também o trabalho em conjunto feito entre os operacionais e o amigo que encontraram naquela cidade completamente destruída: "Tivemos a sorte de ter uma guia, foi nosso amigo. A nossa equipa passou de 52 para 53, fez toda a diferença", frisou.
O comandante disse também que estas ocorrências e catástrofes "exigem muito esforço, não só físico mas também emocional", e que os elementos da equipa "estão devidamente treinados" e "são profissionais de excelência e de uma disponibilidade impar".
Jose Guilherme acrescentou ainda que a cidade de Antáquia, com cerca de 600 mil habitantes, não tem ninguém a residir em casas, estando todos a morar em campos de desalojados e o que os seus habitantes necessitam neste momento é de roupas, medicamentos e bens alimentares.
Na cerimónia de chegada da equipa portuguesa, no terminal militar de Figo Maduro, em Lisboa, estiveram presentes os ministros da Defesa Nacional, Helena Carreiras, e da Administração Interna, José Luis Carneiro, e os secretários de Estado da Proteção Civil, Patrícia Gaspar, e da Saúde, Ricardo Mestre.
Nova missão, se for preciso
“Se for necessário mobilizar de novo uma nova força, Portugal já manifestou à embaixada a sua disponibilidade”, precisou aos jornalistas José Luís Carneiro. Uma nova missão portuguesa terá de ser enquadrada no mesmo âmbito europeu em que foi a equipa agora regressado. “Se o Mecanismo Europeu de Proteção Civil e o Centro Coordenador de Resposta de Emergência [da União Europeia] assim o entender, Portugal estará disponível para mobilizar uma nova força de apoio para busca e salvamento e, se necessário for, para a própria reconstrução”, sublinhou o ministro.
Questionado sobre o tempo que durou a presença da equipa portuguesa na Turquia, José Luís Carneiro afirmou que “o importante não é o tempo que demoram as missões, mas sim o que significam”, acrescentando que “o facto de ter salvado uma criança com 10 anos demonstra a oportunidade e utilidade”.