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A inflação está a empurrar mais portugueses para fora? “Ainda não se sabe, mas é possível: os fatores de repulsão em Portugal aumentaram”

Os habituais destinos da emigração também enfrentam um aumento do custo de vida. Mas os salários mais altos nesses países podem significar para os portugueses um ganho em relação às suas condições de vida atuais, explica Rui Pena Pires, coordenador do Observatório da Emigração. Para já, não há dados sobre a emigração em 2022, mas em 2021 voltou a subir

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O Observatório da Emigração divulga todos os anos uma estimativa do número de portugueses que emigraram, baseando-se nos dados de entradas nos vários países de destino. Em 2021, pelo menos 60 mil portugueses deixaram o país, mais do que no ano anterior, mas ainda abaixo dos números pré-pandemia, aponta o relatório divulgado esta quarta-feira. Rui Pena Pires, coordenador do Observatório, explica o que está a mudar na emigração.

É expectável que o aumento do custo de vida e a dificuldade em pagar rendas ou prestações ao banco atirem mais portugueses para fora do país?
É difícil saber enquanto não tivermos dados sobre a emigração em 2022, mas é possível. Não é que os portugueses consigam encontrar uma situação de inflação menos má noutros países, mas poderão conseguir enfrentá-la com uma margem maior do que a que têm cá. E isso faz diferença nas suas condições de vida. Um holandês estará provavelmente a queixar-se do diferencial do custo de vida agora e antes da inflação, mas, para um português que vá para a Holanda, a diferença em relação a Portugal compensa-lhe. A decisão de migrar depende sempre de um jogo entre fatores de repulsão e atração. É um facto que a repulsão em Portugal aumentou e, nesse sentido, é possível que a emigração cresça, mesmo sem ter aumentado a atração noutros países.