Nos velhos filmes de polícias e ladrões do século XX, o mundo não podia ser mais maniqueísta. Os bons e os maus estavam em campos opostos e, em regra, encontravam-se para um duelo decisivo apenas no fim: os vilões eram mortos ou iam para a cadeia; os heróis ficavam com a donzela. A globalização e a indústria offshore vieram acabar com esses contos de fada. No século XXI, nos crimes de colarinho branco onde se rouba dinheiro a sério, os bons não conseguem apanhar os maus porque os maus usam testas de ferro e paraísos fiscais em sítios improváveis para esconder o que fizeram. Correção: não conseguiam apanhar. Alguns consultores especializados em navegar num mundo onde nada é a preto e branco, e onde os heróis parecem ter direito a um lado mau, vieram dar uma ajuda. Esta é uma dessas histórias.
Documentos obtidos pelo Expresso - e partilhados com o ICIJ, o Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação, e com parceiros de ‘media’ em Espanha, nos Estados Unidos, na Venezuela e em Israel -, revelam como um consultor israelo-venezuelano de nome Martin Rodil recebeu de forma secreta 18 milhões de euros de dinheiro roubado ao estado venezuelano, enquanto trabalhava ao serviço das autoridades americanas para levar à justiça dos EUA alguns dos mais notórios corruptos do regime de Hugo Chávez.