Todas as estatísticas demonstram que o fim da pandemia deu um empurrão ao tráfico internacional de cocaína, seja por via terrestre, marítima ou aérea. O que os números não revelam são as soluções engenhosas que os principais grupos criminosos portugueses passaram a utilizar para ampliar os seus negócios ilegais depois de dois anos com as fronteiras fechadas ou condicionadas. Um dos esquemas mais lucrativos do pós-covid 19 tem a designação de “malas sem dono” e faz entrar em Portugal e na Europa milhares de quilos desta droga através do aeroporto de Lisboa.
Só nos últimos meses foram abertas várias investigações pela Polícia Judiciária a pelo menos cinco destes grupos, que atuam sobretudo em Lisboa e Setúbal e com fortes laços a importantes redes brasileiras que dominam o negócio na América Latina. E há funcionários do handling e dos serviços de limpeza do Aeroporto Humberto Delgado sob suspeita de trabalharem para estas redes criminosas. “Há um grave problema com a entrada de droga no aeroporto de Lisboa. Este esquema só funciona com a cumplicidade de gente ligada à infraestrutura da Portela”, conta uma fonte judicial, que não coloca de parte a hipótese, embora mais remota, de também haver elementos de forças policiais envolvidos com as redes.