Um ano passara desde que os fogos de 15 de outubro tinham mudado tudo por ali, mas parecia coisa de ontem. O Expresso foi até lá, a Midões, Gramundes, Freixedas, Avô, Vale do Laço e Vila Nova da Ventosa, e a tragédia ainda conservava o cheiro, a temperatura, a dor. Na história de oito mortes relatámos as das 50 vítimas das chamas de 914 incêndios num só dia. Mas também encontrámos vida. De quem se conseguiu agarrar a ela e passou a fazer da existência um prolongamento de quem partiu.
Há entre os sobreviventes daquele domingo, de temperaturas tórridas e vento demoníaco soprado pelo furacão Ophelia, uma resiliência que parece soltar-se dos genes, que lhes levanta a cabeça e o corpo, que lhes põe as mãos ao trabalho.
Ainda assim é, cinco anos depois. Há mais uma criança, corpos recuperados, hortas viçosas, casas que são casas outra vez, medos que se foram. É gente forte, a quem só as emoções de uma perda devastadora travam a total recuperação. Porque à noite, o sono ainda traz foguetes de lágrimas à memória.
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