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Sargaço nas praias: as algas valem ouro, mas todos os anos há toneladas que vão para o lixo

Entre abril e outubro, um mix de algas conhecido por sargaço dá à costa no Centro e Norte Portugal. Apesar do valor inegável, as Câmaras enveredam por um duplo desperdício ao investir no envio das algas para aterro, a bem do turismo local. Na Universidade do Porto, há estudos que confirmam a eficácia do sargaço na mitigação de stress e secura das plantas. Em Coimbra, a ciência já começou a desbravar potenciais aplicações clínicas – mesmo sabendo que as alterações climáticas levaram o sargaço a uma transformação radical nos últimos 15 anos

Os sargaceiros devem o nome a apanha de algas conhecidas como sargaço. A atividade viria a registar um declínio depois dos anos 1980
DR/ Casa do Povo da Apúlia

Os tempos mudam, e a apanha de sargaço também. “Nas décadas de 1960 e 1970 as pessoas tinham de tirar licença para ir ao sargaço nas praias. Havia mesmo competição entre quem apanhava mais, mas agora quase ninguém o quer”, descreve Juvenal Oliveira, presidente da Casa do Povo da Apúlia, que conta com um grupo folclórico de sargaceiros, que devem o nome à apanha de um conjunto de algas que dão à costa todos os anos, entre abril e outubro.

O dirigente da Casa do Povo minhota ainda se recorda de ir com os pais à praia apanhar, durantes os anos de 1980, o respetivo quinhão de sargaço para uso de fertilizante nas hortas. Fotos mais antigas confirmam que, durante grande parte do século 20, as praias de Caminha a Espinho enchiam-se de algas arrancadas pela força das marés e dos humanos que as recolhiam com instrumentos seculares como o galhapão e a graveta para as deixar a secar durante meia dúzia de dias, antes de serem reunidas em padelos (pequenos montes) e guardadas em cabanas até serem usadas à medida dos diferentes ciclos de cultura.