Bastou uma publicação no Instagram sobre a forma não-binária com que Filipe Sambado se identifica perante a filha, Celeste, bebé de um ano, para causar polémica. “Fiz um post sobre ser ‘pai’ ou ‘papita’ para a minha filha, sendo pessoa não-binária, e perdi 20 seguidores em menos de nada”, escreveu Sambado no Twitter. Foi há cerca de um ano que Filipe, de 36 anos, se começou a identificar e a afirmar como pessoa não-binária de “género fluido”. Ou seja, não se identifica exclusivamente com o género masculino que lhe foi atribuído à nascença, nem apenas com o feminino, e passou a preferir para si os pronomes neutros ou femininos. Esta sua identidade de género começou a ser afirmada na mesma altura em que foi finalista do Festival da Canção de 2021. “O género masculino que me fora atribuído era uma prisão muito pesada. Há alturas em que me sinto mais não-binário, outras como uma mulher, outras em que me sinto mais um homem.” Filipe explica que finalmente passou a compreender-se. “Comecei a dar um nome para a minha identidade.”
Foi para entender melhor a complexidade, a vida e os direitos de identidades trans ou não-binárias como a de Filipe Sambado que a investigadora do Instituto de Ciências Sociais (ICS) Sofia Aboim dirigiu o estudo europeu “Trans rights” (financiado com €1,3 milhões pelo Conselho Europeu de Investigação) entre 2015 e 2020, que envolveu Portugal, França, Reino Unido, Países Baixos e Suécia. Chegou a conclusões surpreendentes: “Para cada vez mais pessoas o binarismo de género é sentido como um colete de forças. E ter que se dizer apenas ‘sou homem’ ou ‘sou mulher’ significa para algumas anular uma enorme parte do que as constitui.”