Quase dois anos depois de ter sido encerrado, devido à pandemia e à necessidade de fazer obras de adaptação do espaço, o serviço de internamento da Unidade de Alcoologia de Lisboa (UAL), vai reabrir. As obras estão “na fase final” e devem estar concluídas “em breve”, explica a Administração Regional de Saúde e Vale do Tejo (ARSLVT) ao Expresso, não adiantando, contudo, uma data concreta para a reabertura do internamento.
O serviço foi encerrado em março de 2020, quando foi decretado o estado de emergência em Portugal face ao aumento de casos de infeção por covid-19 no país. Segundo a ARSLVT, percebeu-se nessa altura que “as condições do edifício não permitiam internamentos sem o risco de contágio”. O serviço só foi encerrado “quando todos os doentes internados terminaram o seu tratamento, não tendo ocorrido qualquer antecipação de altas clínicas”, garante a entidade.
A reabertura estava prevista para setembro do mesmo ano, mas quase um ano depois o serviço continuava encerrado, conforme noticiou o Expresso em julho de 2021. Joaquim Fonseca, coordenador do DICAD (Divisão de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências da ARSLVT), em que está integrada a UAL, justificou o atraso na reabertura do serviço com as “dificuldades em adjudicar os trabalhos”.
Encerramento teve impacto na acessibilidade aos cuidados de saúde
Reiterando as existência de “constrangimentos” na realização das obras, “agravados pela pandemia”, a ARSLVT explica que, além das obras de adaptação do espaço às “exigências da pandemia”, investiu-se na “melhoria das condições da habitabilidade das instalações da UAL”. Foram incluídas melhorias “ao nível na rede elétrica, sistema de deteção de incêndios, sistema de vídeo, acessibilidades, substituição de janelas, rede de água e esgotos (incluindo canalização e água quente), reparação de puxadores, válvulas, torneiras e lâmpadas e ainda melhorias nos acabamentos, como pinturas de paredes e tetos”. “Estas intervenções fizeram-se após concurso de empreitada para a realização urgentes das obras”, explica a ARSLVT.
Como se trata do único serviço gratuito do país que contempla um internamento de cerca de um mês, dispondo de 25 camas, e um programa de acompanhamento psicoterapêutico o encerramento teve impacto na acessibilidade aos cuidados de saúde. Nos meses que se seguiram ao encerramento, os utentes “com critérios clínicos para tal” foram encaminhados para comunidades terapêuticas do sector convencionado, entre instituições particulares de solidariedade social (IPSS) e associações, cujos tratamentos não são totalmente comparticipados pelo Estado (há apenas uma estrutura destas que é pública, no Restelo, em Lisboa). Uma parte do tratamento é assegurada pelo utente ou pela Segurança Social quando há uma “situação de carência económica”.
Já a partir de 12 de agosto de 2020, a Unidade de Desabituação do Centro das Taipas – que também funciona no Parque da Saúde de Lisboa e dá resposta a casos de dependência de substâncias psicoativas ilícitas de forma totalmente gratuita – “passou a dar resposta aos doentes da UAL, uma vez que este edifício foi avaliado como tendo condições razoáveis ao reinício do internamento”, explica a ARSLVT, garantindo que, “à medida que a pandemia evoluiu, também a resposta foi evoluindo”. As listas de espera para internamento nestas duas únicas unidades de internamento públicas aumentaram, admite a ARSLVT, não adiantando, contudo, quantas pessoas estão em espera.
Garantindo que “os doentes não ficaram sem resposta”, a ARSLVT explica também que foi reforçada a articulação com a Câmara Municipal de Lisboa e estruturas da comunidade no sentido de dar apoio a situações de dependência alcoólica que, “pela gravidade do quadro clínico mas também pela situação de vulnerabilidade e disrupção social, exigem cuidados ao nível da saúde e das respostas sociais”. Exemplo disso são as pessoas em situação de sem-abrigo com síndrome de privação alcoólica.