A Ordem dos Médicos reagiu quinta-feira com consternação às declarações da ministra da Saúde feitas na Comissão Parlamentar da Saúde, que considera que são "inqualificáveis e prejudicam os doentes".
"As declarações proferidas sobre a solução para a falta de médicos, bem como as acusações que faz aos clínicos, em particular aos de Setúbal, são inqualificáveis e impróprias para uma figura de estado que está à frente de uma área central para a vida dos portugueses", lamenta o bastonário.
Numa nota enviada às redações, a Ordem acusa a ministra de recusar "uma vez mais, reconhecer que a carência de médicos no Serviço Nacional de Saúde se deve à incapacidade que a titular da pasta da Saúde tem tido de criar condições de carreira e de trabalho que motivem os médicos a ficar no serviço público".
"Mais grave, a ministra acusou os médicos de não serem resilientes – numa atitude falsa e provocatória que não dignifica o lugar que ocupa e que é sempre profundamente injusta, ainda mais com as provas dadas nos últimos dois anos de dedicação extrema e superação perante a maior pandemia da história recente", atirou Miguel Guimarães.
A ordem defende que "os médicos de Portugal fizeram mais com menos, salvaram milhares de vidas, fizeram muitos milhões de horas extraordinárias, foram um exemplo na forma como cuidaram, trataram e protegeram os doentes e no combate à pandemia. Os números mostram uma capacidade de resiliência invulgar elogiada a nível nacional e internacional. A ministra da Saúde perdeu toda a credibilidade. Com esta atitude está a prejudicar de forma grave os doentes. Imperdoável".
Relativamente aos médicos do Centro Hospitalar de Setúbal, referidos por Marta Temido e que têm vindo a denunciar a falta de condições nesta unidade, a ordem responde que "a melhor forma de atrair recursos humanos é conquistá-los para projetos de trabalho e não passar uma imagem, ou intensificar uma imagem, de que a instituição vive enormes dificuldades e num clima de confronto". O bastonário considera ainda que "esta atitude da ministra, de permanente desvalorização dos alertas dos médicos, chegando mesmo a roçar o insulto a quem sofre no terreno com a falta de condições criada pelo poder político, é própria de quem nada percebe de gestão de recursos humanos, de empatia e de respeito pelas pessoas".
A nota termina afirmando que "os médicos saberão dar a resposta a esta atitude totalmente inaceitável".