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“Há dias que marcam a alma”: 12/01/2005 e 24/07/2016 (duas histórias de luto parental)

Joana tinha 16 anos quando morreu com um cancro raro na cabeça. Leonor lutou contra o tipo de cancro mais agressivo, morreu aos 15 anos. “Um filho nunca deve morrer antes de um pai, essa é a verdadeira violência”, explica João de Bragança, presidente da Acreditar - Associação de Pais e Amigos de Crianças com Cancro. Os pais de Joana e Leonor viveram-na e como tantos outros pais e mães tiveram apenas cinco dias de luto parental. É o que diz a lei: cinco dias para lidar com uma dor “que é como uma amputação”. Esta são as histórias da Joana e da Leonor, mas são também as histórias de quem fica depois da morte de um filho

Pedro Bello fotografado no estádio do Sporting, em Lisboa. O peluche era de Joana, comprado durante um internamento nos EUA
Nuno Fox

Pedro Bello nunca leu tantos livros como naquele ano: foram 64. Leu sobretudo em português e francês enquanto esperava nos quartos de hospitais. Pegava num cadeirão e arrastava-o, virava-o de costas para a televisão, onde a mulher se sentava a olhar o ecrã. De todas as vezes que abriu um novo livro ou que chegou ao fim de um capítulo tinha a seu lado, deitada na cama, a filha Joana. Com 15 anos, tinha um cancro raro na cabeça. Aquele ano em que Pedro mais leu foi o último ano de vida da filha.

“Estivemos tantas horas nos hospitais que eu só lia para passar o tempo.” Foi Pedro que escolheu o local para a conversa com o Expresso: o estádio de Alvalade, em Lisboa. Joana gostava muito de futebol e foi com um tio que ganhou o amor ao Sporting. “Eu nem ligo a bola mas ela gostava muito. Creio que foi em maio de 2000, acho que quando foram campeões, ela e o tio foram para a rua festejar e, antes de saírem, disseram-me: só voltamos para casa quando a gasolina do carro acabar ou quando a buzina parar de funcionar.”