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Sociedade

Irmã Lúcia, a vidente política

Mística, prática, ingénua, sem opiniões próprias no campo político, foi ditando modos de ver a guerra, o comunismo, o papel de Salazar

O Papa João Paulo II e a irmã Lúcia, em Fátima, a 13 de maio de 2000
lusa

Há duas constantes nas observações políticas da irmã Lúcia: a ideia da paz e o medo de que os “erros do comunismo” se espalhassem pelo mundo. Em 13 de maio de 1917, a ainda pequena Lúcia dos Santos, 10 anos, conta que, ao ver a “Senhora mais brilhante que o sol”, lhe perguntou: “Quando acaba a guerra?” Mais tarde, já no convento, passaria a referir-se aos “erros da Rússia” e a dizer que os sucessivos papas deveriam consagrar aquele país a Nossa Senhora, de modo a evitar que esses erros se espalhassem pelo mundo ou o surgimento de novas guerras. O medo do comunismo tinha ainda uma alínea complementar: a admiração por Salazar, que estabilizara o país e as relações com a Igreja, afugentara o comunismo e colocara o país ao abrigo da Segunda Guerra Mundial.

Essas alusões frequentes aos temas da paz e do comunismo iriam traduzir-se em observações a propósito de episódios importantes, de carácter internacional, eclesiástico ou doméstico: Guerra Civil de Espanha, perseguições religiosas na União Soviética, as duas guerras mundiais, papel quase messiânico de Salazar na “salvação” de Portugal — tudo isso merece de Lúcia comentários, orações, apelos...