Sociedade

Morte no aeroporto: um dos acusados diz que SEF distribuiu bastões

A ex-diretora do SEF, Cristina Gatões, garantiu ao Ministério Público que não foram distribuídos bastões extensíveis pelos inspetores do SEF, enquanto o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, referiu que o seu uso “é totalmente ilegal”. Porém, um dos acusados do homicídio de Ihor Homeniuk descreve na contestação que os inspetores receberam bastões em 2004

Ricardo Mussa

Tanto Cristina Gatões, ex-diretora do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), como Eduardo Cabrita, ministro da Administração Interna, garantiram que os bastões extensíveis não fazem parte do equipamento do SEF e que não foram distribuídos pelos inspetores. No entanto, avança esta terça-feira o "Diário de Notícias", um dos três inspetores acusados do homicídio de Ihor Homeniuk refere na contestação apresentada que os bastões extensíveis foram distribuídos pelo SEF e que, por isso, não poderiam ser consideradas armas proibidas.

"Não há, nem havia à data de 12 de março (dia da morte de Ihor), nenhum bastão extensível distribuído pelo SEF ao Posto de Fronteira sito no aeroporto Humberto Delgado ou a qualquer funcionário desta unidade orgânica", garantiu Cristina Gatões ao Ministério Público. E Eduardo Cabrita adiantou que os tais bastões "não integram o equipamento de pessoal do SEF, designadamente no aeroporto", acrescentando que "caso se prove a utilização de qualquer bastão extensível, isso é totalmente ilegal".

Mas um dos três arguidos refere na sua contestação que, a propósito do Euro 2004, "foram distribuídos pelas diversas forças de segurança, inclusivamente pelos membros do SEF, tanto bastões extensíveis como sprays de gás pimenta, os quais nunca vieram a ser recolhidos e que passaram, desde então, a ser utilizados por esses elementos". Sobre esta questão, também a PJ e a Inspeção-Geral da Administração Interna (IGAI) tinham referido nos respetivos inquéritos que o uso de bastões pelos inspetores do SEF era comum.

As imagens captadas pelas câmaras de vigilância do Centro de Instalação Temporária do SEF, no aeroporto, mostraram que um dos três inspetores que entraram na sala onde estava Ihor Homeniuk tinha um bastão extensível. "O cadáver de Ihor Homeniuk, para além das fraturas dos arcos costais, apresentava marcas contundentes, suscetíveis de terem sido efetuadas com um bastão ou um cassetete", lê-se no relatório da autópsia.