Sociedade

Portugueses aderem menos ao confinamento que em março. Mobilidade aproxima-se da média pré-pandemia

Na passada sexta-feira o índice de mobilidade dos portugueses fixou-se em 72% - apenas três pontos menos que o índice de mobilidade de 75% da população que havia sido estimado antes da pandemia

A PSE recorda que só o fecho das escolas garantiu maior adesão ao confinamento
ALBERT GEA/REUTERS

O estado de emergência que começou a 22 de janeiro produziu menos efeito em termos de confinamentos que aquele que foi decretado em março de 2020, durante a primeira fase da pandemia. Segundo estatísticas trabalhadas pela consultora PSE, em nenhum dos dias abrangidos pelo estado de emergência mais recente se alcançou os valores de adesão ao recolhimento obrigatório que foram detetados no primeiro estado de emergência iniciado a 18 de março do ano passado.

As estatísticas do "Confinamento no Lar" revelam que o dia 23 de janeiro, um sábado, foi o que registou maior adesão com um total de 65% dos cidadãos a cumprir o recolhimento obrigatório.

Em contrapartida, no estado de emergência do ano passado, o primeiro sábado (21 de março) registou uma taxa de adesão ao "Confinamento no Lar" de 69%.

Comparação entre confinamentos de março de 2020 e janeiro de 2021. FONTE: Painel PSE Mobilidade

A comparação entre os dois períodos pandémicos apresenta ainda maior discrepância nas adesões aos confinamentos nos primeiros domingos abrangidos pelos respetivos estados de emergência. Enquanto em março de 2020, a adesão dos portugueses ao "Confinamento em Casa" chegou aos 73%, no domingo 24 de janeiro esse indicador não foi além dos 57% - e decresceu nos dias seguintes, mantendo-se sempre abaixo dos valores registados na primeira fase da pandemia, até ter chegado a sexta-feira com 46%. O que significa que mais de metade da população não terá acatado a ordem para permanecer em casa - pelo menos durante uma parte desse dia.

A PSE aponta para “alguma erosão no Confinamento nos últimos dias” da semana passada, mas também identifica um fator que terá um peso maior no confinamento: “só com os fechos das escolas foi possível chegar a Confinamento no Lar acima dos 50%”.

A consultora centra ainda as atenções nas tendências registadas na quinta e sexta-feira passadas. Depois de uma adesão inicial acrescida às medidas de confinamento pelo mais recente estado de emergência, os portugueses voltaram a dar sinais de maior mobilidade nos dois últimos dias úteis da semana que passou. O que revela que houve mais gente a sair de casa.

Os dados compilados pela PSE revelam uma “redução clara” do "Confinamento em Casa" durante a sexta-feira, 29 de janeiro, que não foi além de 46,4% da população nacional. Na quinta-feira, 28 de janeiro, esse índice apontava para um confinamento de 48,6%.

A este dado junta-se outro que aponta para uma possível perda da adesão das medidas de confinamento: o "Índice de Mobilidade" da passada sexta-feira foi estimado pela PSE em 72% - apenas menos três pontos percentuais que o "Índice de mobilidade" de 75% da população que havia sido estimado como média antes da pandemia.

“Esta tendência é relativamente preocupante, uma vez que a situação pandémica atinge novos máximos e temos grande parte da atividade comercial e escolar encerrada”, refere a PSE, admitindo em comunicado que grande parte dos portugueses poderá não ter adotado a totalidade das medidas de confinamento preconizadas pelo Governo.

O comunicado da PSE dá ainda conta de que o confinamento da segunda-feira passada foi respeitado por 55,6% dos portugueses, sendo acompanhado por um índice de mobilidade de 59%. Na terça-feira, a adesão ao confinamento desceu para 53,2% e o índice de mobilidade subiu para 60%. Na quarta-feira, o confinamento situou-se nos 53,3%, sendo que o índice de mobilidade subiu para 61%.

Confinamento no Lar durante a semana passada. FONTE: Painel PSE Mobilidade

“Na semana de 11 de janeiro, os índices andavam perto de 100, ou seja, perfeitamente em linha com a mobilidade existente antes da pandemia. No dia 15 de janeiro dá-se uma considerável redução da mobilidade da população, iniciando uma tendência decrescente, que culminou com o mínimo de 59, a 25 de janeiro”, detalha o comunicado da PSE.

Os especialistas em estatísticas analisam a adesão aos confinamentos tendo por base dois conceitos: um que dá pelo nome de “confinamento natural” e que reflete a percentagem de pessoas que opta por ficar em casa, mesmo sem medidas como as que foram decretadas pelo estado de emergência; e um segundo, que se soma ao primeiro, mas que dá pelo nome de confinamento adicional e que abarca os portugueses que, devido ao recolhimento obrigatório, passam a ficar em casa.Os cálculos da PSE revelam que o confinamento adicional arrancou a semana passada com 31%, mas depois desse valor registado na segunda-feira foi descendo gradualmente até chegar aos 23%. O que poderá indiciar que, na passada sexta-feira, 77% dos cidadãos que, eventualmente, deveriam ter sido abrangidos pelas medidas de recolhimento obrigatório, acabaram por sair de casa.

Índice de mobilidade desde 11 de janeiro. FONTE: Painel PSE Mobilidade

A média do confinamento adicional registada durante os dias úteis chegou ao final de janeiro com 27,2%. São quase dez pontos percentuais de diferença face aos 36,5% registados depois das medidas de confinamento aplicadas durante a primeira fase da pandemia, entre março e abril do ano passado.

O estudo da PSE tem por base os dados recolhidos junto de 3670 utilizadores de uma aplicação de telemóvel que permite localizar em permanência cada participante através de comunicações por satélite. Os voluntários que participam no estudo são representativos de 6.996.113 portugueses com mais de 15 anos de idade residentes que vivem nas regiões de Grande Porto, Grande Lisboa, Litoral Norte, Litoral Centro e Distrito de Faro. A margem de erro está fixada em 1,62%, sendo que o intervalo de confiança é de 95%, informa a PSE.