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Entregas. O penso rápido que não estanca a hemorragia da restauração

Comissões de empresas como Uber Eats e Glovo chegam aos 35% e estão a “esmagar as margens de lucro dos restaurantes”. Empresários pedem a intervenção do Governo e dizem que não será o delivery a salvar o sector

João Cipriano

“Andamos ocupados a salvar o barco e acabamos comidos pelos tubarões.” O desabafo de Miguel Peres, dono, cozinheiro e “faz-tudo” do restaurante Pigmeu, em Lisboa, é o espelho do estado de espírito de muitos empresários da restauração em relação às grandes plataformas de entrega ao domicílio, em especial a Uber Eats e a Glovo. Acusam-nas de os asfixiarem com comissões tão elevadas que esmagam as margens de lucro, em alguns casos chegando aos 35%, acrescidos de IVA, o que, na prática, pode representar mais de 40% da venda.

A Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor (DECO), que apresentou denúncias à Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) e à Autoridade da Concorrência por suspeitas de abuso de posição no mercado durante a pandemia, fez as contas: se um restaurante vende uma piza por €12,30, €2,30 são entregues ao Estado em IVA. Caso a plataforma aplique uma comissão de 35%, fica com €4,30. Mas esta comissão também é acrescida de IVA (23%), acabando o restaurante por desembolsar €5,30. Feitas as contas, dos €12,30 da venda o estabelecimento fica apenas com €4,70.