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Covid.19. O casal que vai vacinar o mundo

São ambos médicos, alemães e de origem turca. É o casal de que se fala, fundador da BioNTech, que anunciou, em conjunto com a Pfizer, uma vacina para o novo coronavírus na terceira fase de ensaios e com uma eficácia de 90%. É o início do fim da era covid

Felix Schmitt/Contact Press Images-Focus

Há muitas formas de celebrar uma descoberta. Özlem Türeci e Ugur Sahin escolheram ir para casa e beber uma fumegante chávena de chá turco. Tinham acabado de inteirar-se de que a vacina contra o novo coronavírus testada nos seus laborató­rios apresentava uma eficácia de 90%. “Foi um alívio”, declarou o dr. Sahin. Dias depois, já refeito da surpresa, arriscou uma afirmação mais contundente: “Este pode ser o início do fim da era covid.” De repente, como quem não quer a coisa, fez-se história. E o olho da Humanidade fixou-se neste casal alemão, cujo nome denuncia a origem imigrante. Rapidamente começaram a circular os pormenores da sua singularidade, como o facto de ambos partilharem uma paixão assolapada pela investigação, ao ponto de, no dia do seu casamento, antes e depois da paragem no registo civil, terem estado a trabalhar. Ou de não terem carro próprio e todos os dias chegarem à BioNTech de bicicleta, o capacete debaixo do braço e envergando mochila e roupa informal. Conheceram-se no início da vida académica e casaram-se em 2002. Têm uma filha adolescente. São pessoas comuns e ao mesmo tempo excecionais, daquelas capazes de divisar a meta antes de o caminho sequer existir.

Em janeiro, com as notícias sobre o surto de um novo coronavírus na China a ganhar espaço noti­cioso, Ugur Sahin de imediato percebeu que se tratava de uma epidemia de contornos diferentes das anteriores, com um potencial de alastramento superior. Terá arriscado um exercício adivinhatório e comentado a Özlem que, pela altura da primavera, as escolas alemãs estariam encerradas. Começou a ler sobre o assunto, e um artigo científico na revista médica “The Lancet” deixou-o a pensar na necessidade de se encontrar uma vacina. Ocorreu-lhe então que a sua empresa, sediada em Mainz, possuía a tecnologia adequada para embarcar nessa procura. “Não há muitas companhias no planeta que tenham a capacidade e a competência para o fazer tão depressa como nós podíamos fazê-lo”, disse ele ao “The New York Times”, acrescentando que, mais do que uma oportunidade, tratou-se de um “dever humanitário”.