Sociedade

Donos de restaurantes saem à rua em protesto: “Já temos casos de fome dentro de portas”

Cinco dezenas de proprietários de restaurantes reuniram-se esta segunda-feira uma marcha lenta no Porto para denunciar o “desespero” do sector - para quem os novos apoios são “insuficientes”, pois seria necessário “um montante colossal” para evitar “o colapso”

Ira Komornik/Unsplash

Esta segunda-feira de manhã, um grupo de proprietários de restaurantes mobilizou-se para uma concentração de protesto nos Aliados, no Porto, realizando uma marcha lenta até à VCI, para denunciar o "desespero" do sector face às novas restrições anunciadas para combater a pandemia. A concentração começou por volta das 7h30, com os donos dos restaurantes também a fazerem-se ouvir através de um 'buzinão'.

Segundo Pedro Maia, um dos empresários do grupo dinamizador da iniciativa, esta nasceu "de forma espontânea" nas redes sociais e mobiliza cerca de cinco centenas de proprietários de restaurantes (sobretudo do Porto, mas também de Aveiro e Lisboa), que levaram os respetivos funcionários para o protesto.

"O objetivo é sensibilizar as pessoas para o que está a acontecer. Neste momento já não suportamos estas novas medidas, é impensável. Já temos casos de fome dentro de portas, investimos todos os lucros de 2019 no primeiro confinamento e não temos apoios", disse.

Garantindo que "o sector está a pão e água", os participantes no protesto vão simbolicamente depositar pão e garrafas de água na avenida dos Aliados, de onde partem depois, em marcha lenta, até à VCI, tendo regresso ao local de partida marcado para as 13h00, hora determinada pelo Governo para o início do recolher obrigatório nos próximos dois fins de semana.

Em causa estão as novas medidas de restrição anunciadas pelo Governo esta madrugada, nomeadamente o recolher obrigatório a partir das 13h00 nos dois próximos fins de semana nos 121 concelhos mais afetados pela pandemia, que se junta ao já determinado encerramento dos restaurantes às 22h30.

Segundo o empresário, este protesto "é uma mensagem de desespero": "Há pessoas completamente desesperadas, que no final do mês não vão ter dinheiro para pagar aos funcionários. Por isso chamamos à iniciativa "a pão e água", porque é isso que está aqui em questão. Não se trata de uma questão financeira, de perdas ou lucros. É mesmo uma questão de sobrevivência", sustentou.

Está toda a gente a dizer que vai começar a despedir, que não tem hipótese. Porque se nos mandassem fechar e nos subsidiassem, como é feito na Alemanha e noutros países, seria completamente diferente. Mas não, não nos estão a obrigar a fechar completamente, estão a tirar-nos os clientes", denunciou.

As associações do sector reagiram às novas medidas saídas do conselho de ministros no sábado e que implicam novas reduções de horários para comércio e restaurantes. Para a Associação Nacional de Restaurantes, foram considerados um “grande golpe” para um sector que já está em “bancarrota”, defendendo que "será necessário um montante colossal" para evitar "a hecatombe".

A Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP) considerou, pelo seu lado, "absolutamente insuficientes" os subsídios e crédito a fundo perdido às empresas anunciados pelo Governo e defendeu que a restauração e alojamento estão "a caminho do colapso".