“A tutela não parece ter aprendido a lição dos meses que passaram” e “não há qualquer justificação para o SNS ficar outra vez em grande medida apenas em cima dos ombros dos médicos e dos outros profissionais de saúde”. O aviso conjunto ao Governo e em particular à ministra da Saúde é feito pelo atual e anteriores Bastonários da Ordem dos Médicos: Miguel Guimarães, António Gentil Martins, Carlos Ribeiro, Germano de Sousa, José Manuel Silva, e Pedro Nunes.
Numa carta aberta publicada hoje no jornal “Público”, o grupo de médicos elogia a “cultura cívica” da população portuguesa no combate à pandemia e a “resiliência” do SNS e dos seus profissionais. Mas pedem mais meios e organização: “Já estamos na segunda semana de outubro, em pleno outono, o que mudou de substancial na organização das pessoas e dos meios? Onde está o necessário e imprescindível plano — discutido, alterado e devidamente aprovado — para os dias e meses difíceis que enfrentamos?”, perguntam, deixando claro que o plano apresentado pela DGS no fim de setembro é “insuficiente e incompleto”.
O tom é de preocupação: “estamos preocupados e compete-nos fazer esse alerta público. É vital que haja uma mudança imediata de rumo na estratégia do SNS. O SNS está novamente exposto a uma disrupção grave no seu funcionamento”. Depois, relembram o Governo que a resposta à covid-19 retardou “de forma brutal” todos os outros cuidados de saúde: listas de espera, “100 mil cirurgias atrasadas, milhares de rastreios que ficaram por fazer, designadamente em oncologia, 17 milhões de meios e exames de diagnóstico e terapêutica, cinco milhões de consultas presenciais nos cuidados de saúde primários”, doentes AVC que não foram tratados, 7.144 mortes não-covid por explicar.
“As consequências vão tornar-se mais esmagadoras a curto prazo”, preveem. Este é o momento do SNS. É o momento do SNS liderar uma resposta global, envolvendo, de acordo com as necessidades dos doentes, os setores privado e social, que permita aumentar o acesso a todos os cuidados de saúde com uma resposta inequívoca a todos os doentes (covid, não-covid e gripe sazonal) e, através de programa excecional alargado, recuperar as listas de espera e os potenciais doentes “perdidos”, concluem.