Sociedade

Universidade do Porto lidera lista de cursos com a nota mais alta de entrada

Sao 16 as licenciaturas e mestrados integrados da Universidade do Porto que estão nos 50 cursos com as classificações mais elevadas.

D.R.

Engenharia e Gestão Industrial. É este o curso da Universidade do Porto que tem a mais alta nota (191.3 valores) de entrada no Concurso Nacional de Acesso ao Ensino Superior deste ano. Esta universidade coloca assim três cursos no top 5 das notas mais altas: o já referido Engenharia e Gestão Industrial; Bioengenharia (191.0 valores) e Medicina do ICBAS (189.8).
Esta é também a universidade mais representada nos 50 cursos com as classificações mais elevadas em Portugal, com 16 licenciaturas e mestrados integrados. No total, 8572 candidatos selecionaram um dos 52 cursos da U. Porto como a sua primeira opção para frequentar o Ensino Superior, o que significa que poderia preencher quase o dobro das suas vagas apenas com estes candidatos. Ainda assim, a U.Porto acaba esta primeira fase do Concurso Nacional de Acesso com mais estudantes colocados (4715) do que vagas disponíveis (4691), registando uma taxa de preenchimento de 100,5%.

O reitor da Universidade do Porto, António Sousa Pereira, explicou ao Expresso estes números.

Tem alguma explicação para esta procura exponencial pelos cursos da Universidade do Porto?
Temos feito por isso. Atualmente a Universidade do Porto goza de um prestígio grande porque estimulamos a investigação e um envolvimento mais completo e abrangente dos nossos estudantes. Temos procurado fazer alianças internacionais que hoje em dia são muito valorizadas. A Universidade do Porto faz parte de um consórcio de universidades, da qual faz parte por exemplo a Paris-Saclayque, onde os nossos estudantes vão poder ir fazer livremente os seus cursos ao abrigo da mobilidade estudantil. Paris-Saclayque neste momento é a 14ª no mundo no ranking de Xangai e a terceira na Europa, a seguir a Oxford e Cambridge. Os estudantes vão sabendo estas coisas e sabem que ao vir para cá têm as portas abertas para um ambiente universitário um pouco diferente daquele que outras universidades podem oferecer. Penso que isso também explica o porquê de termos estudantes que atualmente são provenientes de todo o país. A Universidade do Porto tinha uma implementação regional e neste momento já não.

Há muita procura por parte de estudantes estrangeiros?
Neste momento tudo isso está em banho maria, mas a Universidade do Porto é a universidade portuguesa que mais estudantes tem. Nós no ano passado estávamos com perto de seis mil estudantes estrangeiros, este ano as coisas foram o que foram e portanto não é propriamente um ano que sirva de comparação com coisa alguma, esperamos retomar isso no próximo ano.

Isso significa que não houve abertura para a candidatura de estudantes estrangeiros?
Não, a candidatura houve, não há é condições para eles virem para cá por causa do covid. Isso é que tem estragado os planos, porque mesmo na mobilidade Eramus está a haver grandes limitações e está a haver uma resistência muito grande quer à ida, quer à vinda de estudantes e isso tem reflexos neste cenário. O meu receio é que muitos deles depois não tenham condições para viajar para cá e poder se instalar aqui no Porto. Os voos para a América do Sul estão muitos deles cancelados, são países que têm situações bastante descontroladas do ponto de vista da evolução pandémica e portanto há limitações muito grandes à mobilidade e nós compreendemos que nestas circunstâncias, os estudantes pretendam estar próximo das suas casas, onde de alguma maneira têm mais apoios e mais facilidade em lidar com qualquer coisa que possa acontecer. E portanto vamos ver agora nas próximas semanas como é que isto vais evoluir. Em termos de matrículas eu diria que não há redução relativamente ao ano passado. Em termos de vinda de alunos, estou convencido de que haverá uma diminuição muito significativa. Mas aquilo que vinha acontecendo até ao covid, era um aumento constante ao longo dos anos, que no ano passado teve a expressão de seis mil estudantes estrangeiros na universidade, o que é já significativo. Representa 20% do número de estudantes universitários no Porto.

A Universidade do Porto tem o dobro dos candidatos em primeira opção para as vagas que possui. Vai aumentar o número de vagas?
Não, não temos condições para isso. Agora o que é verdade é que em alguns cursos temos a informação de que terá havido perto de quatro candidatos por cada vaga, o que é muito bom. Mas isto acontece em todo o mundo nas boas universidades, não é nada de novo, nós é que tínhamos um cenário em que estávamos habituados a haver ela por ela, candidatos e vagas. No caso particular deste ano, claramente o Porto foi a universidade em que houve mais candidatos por vaga, o que é um facto que nos deixa por um lado satisfeitos.

De alguma forma também pode estar ligado ao facto da cidade estar cada vez mais atrativa e na moda?
Obviamente deve ser também um factor a ser considerado. Mesmo para os estudantes internacionais nós temos consciência que isso é um factor de atração. Isto seria uma conversa longa, a relação dos estudantes e o turismo, pessoalmente estou convencido de que se desenvolve nos dois sentidos a coisa. O turismo também existe muito porque foram os estudantes que foram passando palavra e foram criando uma imagem positiva da cidade no estrangeiro e isso faz com que hoje em dia o turismo no Porto tenha uma expressão que é importantíssima.

A quantidade de candidatos fora da região norte aumentou este ano?
Este ano ainda não conseguimos ter essa informação, mas nos outros anos temos analisado esse factor e principalmente nestes cursos de elevada nota de entrada temos um número de estudantes cada vez mais significativo oriundos de fora da região do Porto.

Há mais estudantes colocados do que vagas disponíveis. Porque é que isso acontece?
A minha explicação é que este ano como houve subida das notas mínimas, isto significa que o número de alunos que entrou se distribuíram por um intervalo de notas muito mais apertado. Por exemplo, o curso de engenharia e gestão industrial a nota mínima de entrada é 19,3 valores; significa que todos os estudantes tinham entre 19,3 e 20 valores. Ao diminuir esse intervalo de distribuição aumenta a probabilidade de haver empates. E muitas vezes a forma de resolver essa situação é criando vagas adicionais para essa situações. Embora tenhamos três cursos em que não preenchemos as vagas todas, nos outros as situações que determinaram a criação de vagas adicionais foram mais do que aqueles que não foram preenchidos, daí a taxa de ocupação superior a 100%.

Uma das preocupações crescente, e acentuada este ano com a pandemia, é a falta de quartos para os estudantes. Esse é um problema que afeta a Universidade do Porto?
O número de estudantes bolseiros no Porto é significativamente inferior ao de outras universidades, o que tem a ver também com o perfil dos estudantes, porque há uma correlação entre a capacidade económica das famílias e as notas que os estudantes tiram. Até ao ano passado tínhamos em residências universitárias o número de camas suficientes para alojar todos os estudantes que tinham necessidade de uma cama. Este ano vamos ter uma situação diferente porque, por causa das regras do Covid, tivemos de reduzir a lotação de dois para um em cerca de 140 quartos. Aquilo que estamos a fazer é procurar soluções alternativas, temos um programa com a Câmara do Porto e com a Federação Académica do Porto no sentido de arranjar parte de instalações previamente destinadas ao alojamento local para alojar estudantes. Mas é um balão de oxigénio que vai durar um ano. Vamos ter de arranjar soluções de fundo que no caso do Porto são complexas, porque a cidade tem uma área pequena e só consegue crescer em altura, não em nova construção de superfície o que nos dificulta a vida. Temos de arranjar soluções sobretudo para os estudantes de menos posses porque nos últimos anos tivemos um crescimento de vários milhares de camas destinadas exclusivamente a residências universitárias mas que são claramente para um nicho de mercado que não é dos estudantes portugueses que vivem com dificuldades.