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“Como me julgará a História?” Os que o rodeiam asseguram que esta é agora uma das preocupações vitais de Juan Carlos de Borbón y Borbón

Juan Carlos anunciou esta segunda-feira que se vai exilar. A decisão acontece quatro meses depois de Filipe VI ter retirado a pensão ao rei emérito e anunciado que renunciava à sua parte da herança, procurando deste modo distanciar-se das fraudes fiscais que mancharam o seu antecessor. As crescentes suspeitas sobre os negócios escuros do rei emérito obrigaram Filipe VI a repudiá-lo e a desvincular-se publicamente das suas manobras. O Expresso republica um artigo da edição de 1 de maio de 2020 do semanário que refletia precisamente sobre a crise monárquica em Espanha - trata-se de um artigo essencial para compreender como se chegou até aqui

A família real espanhola tem de agradecer à pandemia de coronavírus o manto de silêncio com que se cobriu, de momento, a mais grave crise sofrida pela instituição monárquica nos últimos anos. Se não fosse assim, toda a atenção pública estaria agora centrada nas graves motivações que obrigaram o atual monarca, Felipe VI, a repudiar publicamente no dia 15 do passado mês de março (domingo) — juntamente com a declaração do estado de alarme anunciada oficialmente em todo o país — o seu pai e antecessor, a desvincular-se das manobras financeiras deste e a retirar-lhe a verba pecuniária (cerca de €200 mil anuais) que o rei emérito recebia a cargo do erário do Estado. Uma rutura total que, além da cisão familiar, implicava dar credibilidade a partir da mais alta magistratura da nação às graves suspeitas que se brandiam nos últimos anos sobre as atividades económicas de Juan Carlos I. A inviolabilidade legal da figura do rei, que está consagrada constitucionalmente, no momento em que foram cometidos esses factos salvou até agora o monarca da prossecução de várias iniciativas de investigação judicial em Espanha, mas é insensato prever que esta situação venha a prolongar-se eternamente. A procuradoria, mas também o Parlamento (que já o tentou por diversas vezes), acabarão por indagar a conduta do monarca agora repudiado pelo seu filho.

Desde o dia do anúncio de Felipe VI, que também advertiu quanto à sua renúncia prévia a qualquer herança que lhe pudesse caber das contas suspeitas do seu pai, nada se sabe sobre a vida do anterior monarca. Até esse momento, e apesar da evidente deterioração da sua saúde física — 17 operações cirúrgicas ao longo da vida — e da sua mobilidade, Juan Carlos desfrutava da sua condição de reformado privilegiado, dedicando-se ao cultivo das amizades e às suas diversões favoritas: a boa comida, a navegação à vela e os touros. Supõe-se que vive agora em confinamento sanitário obrigatório no Palácio da Zarzuela, cuja área privada divide com a sua esposa, a rainha Sofía, que também tem aí a sua residência. Embora vivam sob o mesmo teto, o matrimónio está desfeito há anos e a vida em comum é inexistente. O atual rei, Felipe, também utiliza La Zarzuela como gabinete oficial e de audiências, embora viva com a sua mulher Letizia e as duas filhas, Sofía e Leonor, noutro palacete distinto, também situado nos montes de El Pardo, a norte de Madrid. O Palácio Real, localizado no centro da capital espanhola, só é utilizado para determinadas cerimónias oficiais, como os banquetes oferecidos a mandatários estrangeiros e a receção de novos embaixadores. Nesse Palácio foi criado um gabinete e uma secretaria para uso de Juan Carlos a partir do momento da sua abdicação, em 2 de junho de 2014, mas não consta que ele o tenha utilizado alguma vez.

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