Sociedade

Plano “profundamente desequilibrado” da TAP gera revolta a norte

Depois do PS do Porto e dos independente afetos a Rui Moreira terem dito não à 'regionalização' da transportadora aérea com dinheiro dos contribuintes, também o PCP e Bloco de Esquerda condenam o plano desigual de retoma da TAP, centralizado em Lisboa e Vale do Tejo, enquanto o aeroporto do Porto é tratado como "apeadeiro" ao serviço do aeroporto de Lisboa

MÁRIO CRUZ/LUSA

A bancada parlamentar do PCP enviou ao ministro das Infraestruturas e Habitação, Pedro Nuno Santos, três questões sobre o plano de retoma da TAP, que prevê o retorno de 71 rotas voo via Aeroporto de Lisboa e três a partir do Porto. Face às notícias que, no período de 18 de Maio a 4 de Junho, serão retomados os voos da Portela para o Brasil, França e Inglaterra, enquanto a partir do Francisco Sá Carneiro apenas haverá ligações a Lisboa, os deputados comunistas avisam a tutela que o Aeroporto do Porto é uma infraestrutura fundamental para o distrito do Porto e para a região Norte.

Numa altura de relançamento da atividade económica, o PCP lembra que a dimensão da região norte, a sua capacidade exportadora, as suas relações sociais e económicas com outros países, designadamente da UE e do continente americano, pedindo por isso ao Governo que clarifique quais as medidas que pretende tomar quanto à retoma de rotas no Aeroporto do Porto, “no quadro da defesa do interesse nacional e do desenvolvimento sustentado do país”.

“Tem o Governo conhecimento de algum plano elaborado pela TAP de retoma da sua atividade? Que informação dispõe o Governo das rotas previstas, nesse mesmo plano, para o Aeroporto do Porto? Que avaliação faz sobre as soluções apontadas para esse aeroporto? De que forma pretende o Governo intervir para assegurar uma retoma da atividade da TAP compatível com as necessidades do país e da região?”, são as questões que o PCP quer ver urgentemente respondidas.

BE condena opção low-cost de Rio e Moreira

As intenções da TAP de reduzir drasticamente os destinos internacionais dos voos do aeroporto do Porto merecem também a “veemente condenação” por parte do Bloco de Esquerda no Porto, repúdio já manifestado pelo PS do distrito, liderado pelo europdeputado Manuel Pizarro, e pelos independentes do 'Porto, o Nosso Movimento'.

Os bloquistas alertam para a assimetria da decisão assimétrica, ao garantir um peso “profundamente desequilibrado da companhia nacional” em apenas uma região do país : Lisboa e Vale do Tejo. “Estamos a falar de dois destinos a partir do Porto - Londres e Paris – e mais de meia centena desde Lisboa”, refere em comunicado o BE.

Para a direção do Bloco local, o Aeroporto do Porto tem sido tratado “como uma espécie de apeadeiro ao serviço do aeroporto de Lisboa, desprezando a importância regional e nacional que já serviu também a Galiza em voos internacionais e intercontinentais”.

Em comunicado, o BE frisa que a privatização da TAP e depois da ANA à Vinci, como gestora privada monopolista de todos os aeroportos nacionais, foram os instrumentos usados para desqualificar esta infraestrutura e pôr os interesses de empresas privadas a comandar o funcionamento diário do aeroporto do Porto. “Tudo fica ainda mais claro se juntarmos a essas desastrosas escolhas políticas de governos do PS e do PSD, o empenho dos presidentes da Câmara do Porto – primeiro Rui Rio e depois Rui Moreira – em colocar a infraestrutura aeroportuária mais bem equipada de todo o noroeste peninsular, após investimentos públicos de mais de € 500 milhões, ao serviço de empresas low-cost”, acrescentam os bloquistas.

O resultado da estratégia, segundo o BE, foi uma brutal diminuição de passageiros transportados pela TAP a partir do Porto, que, em dez anos, passou de uma quota de 35% dos passageiros para apenas 20%, enquanto a Ryanair tem a maior quota de passageiros (35%), “possuindo em conjunto com a Easyjet mais de 46% dos passageiros emais do dobro dos transportados pela TAP”, conforme os dados da Autoridade Nacional de Aviação Civil.

O BE conclui ainda que a política centralizadora da administração totalmente privada da TAP, que é 50% pública, “é irresponsável e tem de ser anulada”. “Querer concentrar 96% dos destinos dos voos no aeroporto que o CEO da TAP, Antonoaldo Neves, considerava em Fevereiro o pior aeroporto do mundo, parece demonstrar a vontade de querer arranjar razões para uma posterior queixa amargurada de que a Portela está congestionada e não dá resposta”, acrescentam, lembrando que foi por estas razões que o Bloco de Esquerda apresentou no parlamento um projeto de lei para a nacionalização da TAP.