A maior pandemia do século XX, seguramente uma das mais trágicas da Humanidade, foi batizada com um equívoco histórico: gripe espanhola ou, em inglês, spanish lady. A pneumónica, como ficou conhecida em Portugal, foi uma tragédia que encontrou noutra território fértil. Em 1918, ao quarto ano da I Guerra Mundial, os inimigos tiveram de enfrentar um inimigo comum, mortífero, que não escolhia trincheira. Sobre a pneumónica permanece ainda um pesado véu de silêncio, como se a Humanidade tivesse escolhido enterrá-la numa vala comum. A própria origem da pandemia permanece incerta, embora grande parte dos investigadores sejam quase unânimes em afirmar que o surto desta gripe partiu da Ásia, contrastando com as teorias de que terá sido importado em março de 1918 para os campos de batalha franceses dos Estados Unidos da América, que em 1917 se envolveu no conflito, mais precisamente do Kansas, onde as tropas norte-americanas tinham boa parte dos aquartelamentos do seu corpo expedicionário.
Os primeiros casos de pneumónica terão sido detetados em soldados franceses em abril de 1918, presumivelmente contaminados por ‘auxiliares’ chineses, que eram presença comum nas inúmeras frentes de guerra em território francês, onde muitos portugueses deixaram a vida. Seja como for, a influenza (assim chamada por em tempos se acreditar que era influenciada pelos astros) propagou-se com incrível e mortífera rapidez por todos os exércitos, imersos em insalubridade e morte (favoráveis ao desenvolvimento de uma estirpe do vírus invulgarmente agressiva, juntando, à época, a inexistência de antivirais específicos), disseminando-se por entre milhões de soldados, estendendo-se às cidades, galgando fronteiras, deixando um rasto de caos no caos existente na Europa, para se tornar intercontinental. Nos primeiros meses de atividade, a pneumónica matou mais de 25 milhões de pessoas.
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