Sociedade

Carlos Santos Silva: Ricardo Salgado? Não conheço. 12 milhões? Não passaram por mim

Carlos Santos Silva negou esta quinta-feira ser o intermediário ou destinatário dos 12 milhões de euros que Ricardo Salgado entregou a Helder Bataglia para corromper José Sócrates. E voltou a dizer que era ele o dono do apartamento de Paris e que foi o ex-primeiro-ministro a insistir para fazerem um contrato de arrendamento. Só nunca recebeu um tostão. O juiz Ivo Rosa mandou instalar na sala de audiências um inibidor de internet

Tiago Miranda

"Conhece Ricardo Salgado?" Ivo Rosa confrontou Carlos Santos Silva com a pergunta óbvia. Afinal, segundo o Ministério Público, o banqueiro recorreu a Helder Bataglia para fazer chegar a José Sócrates 12 milhões de euros. Bataglia fez vários depósitos em contas de Joaquim Barroca que, por sua vez, os fez chegar a Santos Silva, ou seja, a Sócrates. Santos Silva negou tudo. Não conhece Ricardo Salgado, não foi o intermediário, e muito menos o destinatário, dos 12 milhões que, segundo o MP, Salgado quis pagar a Sócrates como contrapartida pelo favorecimento da posição do Grupo Espírito Santo na oferta pública de aquisição lançada pela Sonae sobre a PT. "Santos Silva não acompanhou essa versão", diz uma fonte judicial.

Ivo Rosa tem seguido a acusação do Ministério Público como um guião e esta quinta-feira esteve em foco a relação de Santos Silva com o Grupo Lena e, mais especificamente, com o administrador Joaquim Barroca. Carlos Santos Silva foi confrontado com os factos relacionados com o apartamento de Paris - comprado por 2.8 milhões de euros num dos melhores bairros da capital francesa - e voltou a inistir no que já tinha dito quando foi detido, em novembro de 2014: o imóvel é seu, emprestou-o a Sócrates "por amizade" e foi o ex-primeiro-ministro que insistiu em fazer um contrato de arrendamento por quatro mil euros mensais que, contudo, nunca foram pagos.

A acusação diz que o apartamento era, na verdade, de Sócrates, que foi escutado a dar ordens sobre as obras de remodelação e sobre os prazos dos trabalhos. Santos Silva voltou a dizer que se tratou de um favor que o amigo lhe fez, uma vez que domina o francês, ao contrário dele próprio. Santos Silva é acusado pelo MP de 33 crimes e de ser o testa de ferro de Sócrates, o amigo de há mais de 40 anos.

Ivo Rosa voltou a deixar à porta os jornalistas que são assistentes no processo e mandou instalar na sala de audiências um inibidor de internet para que ninguém possa passar informação para fora. A audição a Santos Silva, que já prestou declarações por mais de 12 horas, prossegue esta sexta-feira.