Carlos Santos Silva nem queria ser interrogado na fase de instrução. O seu nome foi indicado pelos arguidos Rui Mão de Ferro e Gonçalo Trindade e durante cinco horas o engenheiro e empresário da Covilhã foi interrogado pelo juiz Ivo Rosa. E, tal como o procurador Rosário Teixeira predisse à entrada, não disse "nada de novo". De acordo com o que o Expresso conseguiu saber, Santos Silva manteve que os 23 milhões que transferiu da Suíça para Portugal em 2010 eram dele e resultam de lucros obtidos em vários negócios. O MP, pelo contrário, diz que se trata de dinheiro que na verdade é de Sócrates e circulou nas contas de Santos Silva a troco de uma comissão de dez por cento.
De acordo com a SIC, também Santos Silva contou ao juiz Ivo Rosa que guardava metade do dinheiro que ganhava num cofre. Daí que entregasse a Sócrates dinheiro vivo, "cinco mil, dez mil, mas nunca mais de 20 mil" de cada vez. Antes dele, José Sócrates tinha dito ao juiz que a mãe, Adelaide Monteiro, também guardava uma fortuna de cinco milhões de euros num cofre. O dinheiro tinha sido herdado de familiares e Sócrates recorria à mãe cada vez que, por exemplo, precisava de dinheiro para ir de férias.
Carlos Santos Silva foi ouvido durante cindo horas mas o interrogatório será retomado amanhã. O empresário já admitiu que emprestou cerca de meio milhão de euros ao amigo "de mais de 40 anos" para que este pudesse manter o nível de vida "de diplomata" quando saiu do Governo e para que sustentasse a mãe. Quando foi interrogado por Ivo Rosa, Sócrates disse que era a mãe que o financiava quando precisava.
Santos Silva é acusado de 33 crimes, entre os quais corrupção ativa e passiva, evasão fiscal e branqueamento de capitais, e argumenta no Requerimento de abertura de instrução que foi investigado ilegalmente durante dez anos através de inspeções preventivas sem qualquer tipo de controlo por parte de um juiz.