Sociedade

PSP: esquadras infestadas, sem casas de banho e sem veículos. Agentes viajam de autocarro para responder a denúncias

Em vésperas daquela que promete ser a “maior manifestação de sempre” de polícias em frente à Assembleia da República, o Expresso ouviu vários representantes sindicais da PSP. “O problema não é apenas a falta de aumentos salariais.” A lista de problemas por resolver em Lisboa, Porto, Montijo, Guarda e Sintra é extensa

PATRICIA DE MELO MOREIRA/Getty Images

“O problema não é apenas a falta de aumentos salariais”, garante Mário Andrade, presidente do Sindicato de Profissionais da Polícia (SPP). Há agentes da PSP a deslocaram-se de autocarro até pedidos de ajuda ou denúncias por falta de carros-patrulha. Esquadras infestadas com baratas e ratos; em Lisboa, a de Carnide foi encerrada no mês passado, após uma inspeção da Direção-Geral de Saúde. E já houve polícias a ficarem indispostos porque o veículo em que se deslocavam “mete gases de combustão no habitáculo”.

Resumindo: faltam condições “dignas à profissão”, apontam vários representantes sindicais da PSP ouvidos pelo Expresso, em vésperas daquela que promete ser a “maior manifestação de sempre” de polícias em frente à Assembleia da República. Com a presença prometida do Movimento Zero (M0), a tensão está ao rubro.

Os sindicatos, que se afastam peremptoriamente do M0, assumem que houve “algum investimento” no último ano nos equipamentos das forças policiais, em particular ao nível de veículos, mas ainda são muitos os problemas por resolver. “O ideal seria cada esquadra ter dois carros, mas isso é praticamente impossível”, diz o presidente do SPP.

Há muitas necessidades por suprir. Das conversas com o Sindicato Nacional da Carreira de Chefes da Polícia de Segurança Pública (SNCC-PSP), Sindicato dos Profissionais de Polícia (SPP), Sindicato de Defesa dos Profissionais de Polícia (SDPP) e Sindicato da Polícia pela Ordem e Liberdade (SPOOL), compilamos uma lista das principais queixas, ao nível nacional.

Guarda

O comando da PSP na Guarda atua há mais de uma década em instalações cedidas pela autarquia e o edifício apresenta “muitas limitações à operacionalidade dos agentes”. Por exemplo: qualquer pessoa que vá fazer uma denúncia de algum delito não tem privacidade, pois os serviços de atendimento ao público estão “encavalitados” com as secretárias dos agentes. Em contextos em que é necessária mais privacidade, a única opção é “pedir o gabinete de algum comandante”, revelou um representante sindical.

Sintra

Este ano, durante o período de cerca de um mês, houve agentes da PSP em Sintra a prestar serviços sem carros. "Todos os veículos da esquadra local estavam avariados." Para se deslocarem, nos pedidos de menor urgência, os agentes viajaram de autocarro. “Quando falamos da abertura de uma porta, este é um caso menor. Mas se falamos de um ruído de vizinhança, uma possível discussão conjugal, o tempo de resposta é determinante. Pode acontecer chegarmos e já o pior ter ocorrido”, revelou um representante do Sindicato de Defesa dos Profissionais de Polícia (SDPP).

Quando ocorre uma urgência e uma esquadra não tem veículos para a suprir, essa responsabilidade é passada para a delegação mais próxima. “Nas grandes cidades, isto não é um problema de maior. Já na Guarda, por exemplo, a esquadra mais próxima fica em Gouveia, a cerca de 74 quilómetros de distância”, sublinhou outro representante sindical.

Lisboa

Ratos, baratas e esgotos a “escorrer” dentro do edifício. A 15 de outubro, a esquadra da PSP em Carnide, em Lisboa, foi encerrada após uma inspeção da Direção-Geral de Saúde. Os agentes que ali estavam sediados foram distribuídos pelas esquadras circundantes e ainda não há “data ou local para uma possível reabertura.”

Montijo

Na Esquadra da PSP no Montijo, existem cinco carros para serviço de patrulha. Desses cinco, um tem cerca de 20 anos e trata-se de um Peugeot com “centenas de milhares de quilómetros que apesar de tudo ainda vai andando, especialmente à noite para esconder o seu estado decrépito”. Os restantes, à exceção de um Renault Captur recentemente adquirido, “encontram-se sistematicamente avariados”.

A esquadra dispõe também apenas de um emissor/receptor rádio para controlo de patrulhas. Ora, por diversas vezes, “entre policiamento e remunerados existem dez e mais elementos de serviço no exterior”, o que torna difícil coordenar todas as comunicações.

Mais: na arrecadação da esquadra, existem coletes balísticos, mas estes não estão distribuídos pelos agentes. “Existem dois coletes que circulam por todo o efetivo que presta serviço nos carros patrulha”, diz um representante sindical do SNCC-PSP.

Porto

A norte, o cenário não é melhor. As denúncias multiplicam-se na 3.ª Divisão Policial do Porto. Não há nenhuma viatura adjudicada aos programas “Idosos em Segurança” ou “Comércio Seguro”. Os agentes da PSP que fazem estas patrulhas “utilizam autocarros”, denuncia um representante do SNCC-PSP.

Nos edifícios da 3.ª Divisão, "infestados de ratos e baratas", não há casas de banho, nem acessos adaptados para pessoas com mobilidade reduzida. Na 4.ª e na 6.ª Esquadras as pessoas com limitações físicas são transportadas “ao colo pelos agentes” para poderem aceder ao interior das instalações.

As 4.ª e 5.ª Esquadras do Porto, na Corujeira e Lagarteiro, respetivamente, dispõem de apenas um carro patrulha para ambas. A viatura em causa está a “rodar 24 horas por dia” e em muito “más condições”. “Os agentes circulam sem poderem desembaciar os vidros porque há meses que a calefação está estragada”, denuncia um representante do SNCC-PSP.

A 5.ª Esquadra, além da falta de veículos, sofre também de falta de agentes. “Está fechada em praticamente todos os turnos por falta de efetivos”, diz a mesma fonte.

A 6.ª Esquadra, nas Antas, dispõe apenas de um carro-patrulha em mau estado. O mesmo se sucede na esquadra do Bom Pastor, onde existe um parque de viaturas rebocadas que fica toda a noite às escuras, porque os holofotes de iluminação estão avariados. Pior: a cancela que impede o acesso ao parque está avariada “há três anos” e está presa “com cordas” por falta de verba.

A escassez de recursos, no Porto, afeta ainda as equipas de intervenção rápida. Na área do Polo Universitário do Porto, existe apenas uma “TP8” - viatura de transporte de pessoas com oito lugares. Esta tem mais de 400 mil quilómetros, “mete gases da combustão no habitáculo e já deu origem a indisposições durante o serviço”, diz.

Em dias de jogo no Estádio do Dragão, ao nível de toda a cidade do Porto, o efetivo de serviço “fica reduzido a níveis mínimos de operacionalidade sendo necessário que outras divisões fiquem sem viaturas para as emprestar para o policiamento desportivo”, afirma outro representante sindical.

Tal como acontece em algumas escolas espalhadas pelo país, há também esquadras com telhados de amianto. As instalações do pavilhão desportivo da PSP na Bela Vista, Porto, é motivo de preocupação para muitos agentes. “Encontra-se carregado de amianto o que faz perigar a saúde de todos quantos ali fazem exercício físico.”