O Serviço Nacional de Saúde (SNS) é cada vez menos uma opção de trabalho para os médicos mais jovens. A prova está no último concurso para colocar especialistas em hospitais e unidades de cuidados primários, autorizado no final do ano passado. Do total de 413 vagas abertas, apenas 238 foram preenchidas. Ou seja, 42% dos lugares ficaram sem profissionais e há postos de trabalho que reiteradamente não têm candidatos.
Os dados avançados ao Expresso pela Administração Central do Sistema de Saúde mostram que das 300 vagas em hospitais, somente 165 foram atribuídas. A região Norte conseguiu contratar 64 especialistas, 60 ficaram em Lisboa e Vale do Tejo, seguindo-se os estabelecimentos hospitalares no Centro (26), no Alentejo (10) e no Algarve, com apenas cinco médicos.
Na área dos cuidados primários, o resultado final foi igualmente desanimador para o Ministério da Saúde. As 113 colocações possíveis em centros de saúde e unidades de saúde familiar apenas conseguiram atrair 73 médicos de família. A região da capital colocou 35 especialistas em medicina geral e familiar, o Norte e o Centro apenas 18 e 16, respetivamente. E nas unidades algarvias só três profissionais quiseram as vagas abertas e no Alentejo foram ainda menos: apenas um, para os nove lugares disponíveis.
Mau resultado era "expectável"
A falta de interesse pelo SNS já não surpreende os especialistas seniores. Rui Nogueira, presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, explicou logo que os primeiros resultados foram sendo conhecidos que este resultado era “expectável”. Segundo o responsável, o número de vagas foi superior ao de formandos porque o ministério quis atrair também especialistas que exercem em unidades dos sectores privado e social.
Mas subsiste outro problema e ainda maior. Rui Nogueira tem chamado a atenção para "as vagas que ficam sistematicamente por preencher". São disso exemplos, unidades nas regiões do Algarve e do Alentejo e até na Grande Lisboa, como Sintra, Amadora, Setúbal e Margem Sul.