O conteúdo da intercepção telefónica de Figueira com Proença de Carvalho que o colectivo de juízes aceitou agora juntar aos autos parece contradizer as declarações que o advogado tinha feito ao Expresso em maio de 2017, quando foi confrontado com a questão sobre se tinha tido, em alguma momento, qualquer tipo de intervenção no contrato de trabalho entre o antigo procurador do DCIAP e a Primagest.
"Isso são fantasias”, foi como então se referiu às alegações de que teria estado envolvido na revogação desse contrato de trabalho, e que tinham sido mencionadas pela primeira vez no processo quando o juiz Carlos Alexandre, amigo de Figueira, foi ouvido como testemunha ainda durante a fase de inquérito.
Confrontado esta quinta-feira pelo Expresso com o conteúdo da interceção telefónica, Daniel Proença de Carvalho disse que prefere não falar neste momento sobre o assunto. “Não ouvi a escuta e não comento para já”. O advogado diz que, uma vez que vai ser ouvido como testemunha no julgamento da Operação Fizz, irá pedir o levantamento do sigilo profissional à Ordem dos Advogados. “O conhecimento que eu tenha tido relativamente a este tema está sujeito a sigilo profissional e portanto eu tenho de ter a dispensa desse sigilo”, esclareceu.
Em causa está uma escuta telefónica que a advogada de Orlando Figueira (antigo procurador do DCIAP acusado de ter sido corrompido pelo ex-vice-presidente angolano Manuel Vicente) conseguiu agora trazer para o julgamento e que, na opinião da defesa, ajuda a provar a alegada intervenção de Daniel Proença de Carvalho na revogação do contrato de trabalho que justificou o pagamento ao magistrado de 630 mil euros, dinheiro que o Ministério Público vê como subornos.
Na breve conversa entre os dois (ler aqui), o advogado reconhece que teve uma “intervenção recente”.