O grupo de trabalho nomeado pelo Governo para apurar o que falhou no incêndio de Pedrógão Grande, que provocou 65 mortos no passado mês de junho, defende que tem de haver "um grande cuidado na seleção dos quadros de Comando da estrutura da Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC) e dos Bombeiros" e "melhor qualificação" de todos os agentes que intervêm na prevenção e combate aos fogos.
Coordenado pelo diretor do Centro de Estudos de Incêndios Florestais da Universidade de Coimbra, Domingos Xavier Viegas, o grupo de trabalho divulgou esta segunda-feira o relatório final, que recomenda uma maior profissionalização dos bombeiros e mais "exigência e disciplina" relativamente à atuação dos voluntários.
A equipa chefiada por Domingos Xavier Viegas defende igualmente que o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) deve ter "uma participação mais efetiva na gestão dos incêndios florestais", já que são os técnicos florestais quem melhor conhece o terreno.
O relatório aponta o dedo à negligência dos donos dos terrenos florestais - 98% da propriedade é privada - e também dos municípios por não elaborarem planos de defesa e emergência nem executarem medidas de prevenção de incêndios. "Deveria agir-se perante estes casos de negligência na gestão", frisa o documento, apelando a uma maior responsabilização das Câmaras e dos proprietários.
Salientando que com as alterações climáticas os incêndios florestais tendem a ser cada vez mais frequentes, a equipa considera que as comunidades que vivem no meio ou na proximidade da floresta devem ter formação e apoio para organizarem sistemas de autoproteção e autodefesa.
Nesse sentido, o especialista defende que as evacuações devem ser previamente planeadas e não devem ser "compulsivas e generalizadas": só as crianças, idosos, pessoas com mobilidade reduzida ou doentes devem ser retiradas do caminho do fogo, já que "os cidadãos que estejam física e psicologicamente aptos" devem dicar a defender as suas habitações, considera Domingos Xavier Viegas.
O investigador da Universidade de Coimbra volta a recomendar a criação de um Programa Nacional de Gestão dos Incêndios Florestais que envolva entidades da sociedade civil - como os bombeiros voluntários - e do Estado e que congregue todas as áreas de atuação, desde a prevenção ao combate.