1934-2024 Homens que combateram a ditadura como Camilo Mortágua o fez não foram afinal muitos — e talvez por isso o regime tenha durado quase 50 anos. De armas na mão, Mortágua, nascido em Oliveira de Azeméis em 29 de janeiro de 1934, planeou e participou em algumas das mais espetaculares e eficazes ações de denúncia internacional do Estado Novo. Comandado por Henrique Galvão, participou, em 1961, no assalto ao paquete “Santa Maria”; no mesmo ano, ao lado de Hermínio da Palma Inácio, desviou a partir de Casablanca um avião da TAP que iria voar para Lisboa, levando-o a largar sobre a capital dezenas de milhares de panfletos contra o regime; em 1967, já formada a LUAR (Liga de Unidade e Acção Revolucionária), participou no assalto à filial do Banco de Portugal na Figueira da Foz, ação desencadeada com o propósito de financiar a luta contra o regime. Já depois da “Revolução dos Cravos”, liderou, em abril de 1975, a ocupação da Herdade Torre Bela, na Azambuja. Aí conheceu Maria Inês Rodrigues e foram pais de duas gémeas, as hoje deputadas e dirigentes do Bloco de Esquerda Mariana e Joana Mortágua, nascidas em junho de 1986 em Alvito, onde Camilo viveu a partir dos anos 80 até morrer, com 90 anos, no passado dia 1. O Presidente da República definiu-o como um “lutador contra a ditadura durante muitas décadas” que viveu “uma longa e multifacetada vida ao serviço dos ideais que abraçava”. Agraciado em 2005, pelo Presidente Jorge Sampaio, como Grande Oficial da Ordem da Liberdade, Camilo Mortágua integrou no combate à ditadura um grupo relativamente pequeno de resistentes, que, em vez da ação tribunícia ou de agitação social, escolheu a ação armada como forma de luta (o PCP só adotaria essa via em 1970, com a criação da Ação Revolucionária Armada). “Para um combatente da liberdade não há nada pior que a passividade e o adiamento constante de novas ações”, explicou. João Pedro Henriques