Nos “Diálogos” de Platão, Sócrates confronta os seus interlocutores com a ignorância atrevida, que confundem com perspicácia. Sócrates desmonta ideias contraditórias através de um exame impiedoso aos argumentos defendidos por quem lhe aparece pela frente. A dada altura, o leitor dos “Diálogos” chega a ter pena dos desgraçados que são só tolos, é certo que uns mais agressivos do que outros. No “Górgias”, Sócrates fala sobre a justiça nos termos radicais: “[...] o maior dos males é cometer uma injustiça” (469b, tradução de Manuel de Oliveira Pulquério). Daí passa para a defesa do injustiçado, como uma pessoa feliz porque não cometeu nenhum mal, contrariando a ideia de que há que ter compaixão pela vítima. Para ele, o injustiçado só pode viver tranquilo, estar sossegado, pois nada fez de mal, não praticou a injustiça e por isso é feliz. A felicidade que existe no ser justo implica que a pessoa feliz não está interessada em agradar.