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Editorial

Uma nação para ricos?

A alimentação e a habitação mostram um país em desequilíbrio absoluto: salários baixos, preços altíssimos

Na quinta-feira discutiu-se o estado da nação no Parlamento, um dia depois de as estatísticas oficiais confirmarem o que já sentíamos: os preços das casas por metro quadrado estão a acelerar há quatro trimestres consecutivos, na maior escalada de preços da habitação em cinco anos. As rendas, sabemos, vão no mesmo sentido. Agora, fazendo algumas contas, contamos-lhe outra história: os portugueses são quem mais paga por alimentação na União Europeia, o que se explica não só pelo consumo, mas também pela subida de preços verificada desde a pandemia. É verdade que os salários médios subiram de forma consistente desde então, mas é seguro que, num e noutro caso — da habitação e alimentação —, são sempre os mais vulneráveis quem mais se ressente, que não têm onde cortar para sobreviver em mínimos de dignidade. Não se corta no pão, porque é preciso comer, não se corta na casa, onde é preciso viver. A pergunta, assim, é se estamos a cuidar deles. A avaliar pelo que vimos em Loures esta semana, não podemos ficar descansados.