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Editorial

Contas do SNS

Qual o valor de um dermatologista aos fins de semana? E quanto custa revelar um segredo?

Só nos últimos três anos, o número de doentes operados no SNS em trabalho extra dos médicos (mediante o pagamento de incentivos) aumentou 77%. Estes dados permitem tirar duas conclusões: só desta forma se tem conseguido reduzir as complexas listas de espera para cirurgias mas, por outro lado, a despesa por parte do Estado não pára de subir. O tema surge à boleia da notícia sobre o dermatologista do Hospital de Santa Maria que em quatro anos operou 500 pessoas aos sábados, a troco de 715 mil euros. O valor suscita espanto e dúvida, mas se tiverem sido cumpridos os procedimentos corretos não se apontam questões legais. O Sistema Integrado de Gestão de Inscritos para Cirurgia (SIGIC) nasceu em 2004 e foi criado pelo Governo para combater as listas de espera para cirurgia no SNS, compensando as equipas médicas que aceitem trabalhar para lá do horário. O pagamento varia consoante o tipo de intervenção. O Estado procura assim atenuar as suas próprias falhas, como acontece quando contrata médicos tarefeiros, a quem paga acima da tabela. Numa altura em que se prepara a troca do SIGIC por outro sistema de gestão, vale a pena fazer contas e refletir seriamente sobre o equilíbrio financeiro do SNS. E perceber se a resposta conjuntural é preferível a uma mudança estrutural que possa atenuar desequilíbrios e compensar um maior número de profissionais.