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Editorial

Não é censura, são perguntas

As dúvidas sobre a empresa de Montenegro são menos graves do que a tentação de evitar respostas

A moção de censura que o Chega apresentou contra Luís Montenegro falha o método e o argumento: o Governo não está em “generalizada descredibilização”, nem merece por isso ser afastado. Porém, as notícias sobre a empresa da família direta do primeiro-ministro levantam dúvidas. Dir-se-ia que a pessoa mais interessada em responder-lhes seria o próprio Luís Montenegro — não é bom exercer o poder sob suspeitas. Mas dá-se o caso de o chefe do Governo e alguns dos seus mais próximos acharem outra coisa: que é um “ataque à integridade” de Montenegro quando se fazem perguntas sobre os seus eventuais conflitos de interesses. Não são ataques, são perguntas. E também não são os tempos do populismo, como disse Hugo Soares: é escrutínio como o que foi feito vezes sem conta a José Sócrates ou a Passos Coelho (os recibos verdes que passou em tempos), ou a António Costa (a casa que vendeu pelo dobro do preço). No fim das respostas, cada um seguiu o seu destino. É uma diferença entre democracia e ditadura: na segunda há perguntas proibidas.