A vida não tem manifestamente corrido de feição ao Partido Democrata na luta pela presidência dos Estados Unidos. Passou quase um mês, tormentoso, entre o já célebre debate presidencial que opôs Joe Biden a Donald Trump — em que o Presidente e candidato revelou falhas incompreensíveis, e preocupantes, dado candidatar-se a mais quatro anos no cargo — e o anúncio de saída da corrida à Casa Branca no último domingo. Pelo meio, Trump foi alvo de uma tentativa de assassínio, que gerou uma onda de simpatia à sua volta, e deu precisamente a imagem oposta à do seu opositor — uma imagem de força. Com isto, as sondagens foram solidificando a vantagem de Donald Trump na luta e mostrando que dificilmente Biden conseguiria repetir o feito de o derrotar nas urnas. Os democratas desesperavam (além do mais, depois das presidenciais, há intercalares para o Senado e o Congresso) e, nos bastidores, com Nancy Pelosi a revelar-se um pivot decisivo, as movimentações e pressões para a saída de Biden foram aumentando. A troca de Joe Biden por Kamala Harris, a atual vice-presidente, uma democrata negra da ‘liberal’ Califórnia, trazia evidentes riscos à partida: a falta de carisma da candidata e a dificuldade em penetrar eleitoralmente em vários dos estados considerados decisivos na eleição de novembro. Ainda assim, como revelaram os números entusiasmantes de donativos financeiros para a sua campanha nos primeiros dias e as sondagens iniciais, Kamala Harris tem uma estreita janela de oportunidade, desde logo por baralhar a campanha adversária e obrigá-la a readaptar o discurso. E veremos a sua capacidade de escolher um vice-presidente que agarre eleitorado decisivo ao centro. Da Convenção Democrata de Chicago, em agosto, até à data das eleições presidenciais, em novembro, distam pouco mais de dois meses. No mínimo, vai ser uma campanha muito interessante.
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Kamala, força ou fraqueza?
Mais uma semana vertiginosa na corrida presidencial americana, com a substituição do candidato dos democratas à Casa Branca