A (in)cultura de ‘berrata’ — associada a não deixar falar ou falar por cima do outro — está a começar a disseminar-se pela sociedade portuguesa, acontecendo isto hoje quer nas relações político-mediáticas, quer até nas interações particulares, íntimas, no dia a dia, nas conversas em família, nas conversas de café, entre amigos e conhecidos. Mais além das aberrantes tarjas, o chinfrim que os “senhores” e as “senhoras” deputadas “farsistas” (certeiro adjetivo de Rui Tavares) fizeram no dia 29 de novembro na Assembleia da República, sempre que um deputado usava da palavra, está dentro da horrível atmosfera do tempo: ruído a mais, lágrimas de crocodilo (vitimização estrondosa quando os acusam de criancice ou quando a parlamentar Alexandra Leitão se indignou perante as condições de boicote barulhento à liberdade do tempo de falar de todos os deputados), tagarelice enfadonha, um blá-blá-blá tonitruante, infernal poluição sonora, uma sensacional sem-vergonha. Na república do nosso quotidiano, o que é melhor fazer é desligar: evitar pessoas que levantam a voz, desligar a televisão, baixar o volume, mudar de canal quando o banzé à reality show é o único programa político-ideológico, no limite, mudar de civilização. Em bom português, não lhes passo cartão. Ou escuto apenas a rádio Antena 2: boa música, vozes calmas e elegantes, espaço para ouvir e dizer poesia.