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Os Anjos não são os primeiros a levar o humor a tribunal

Nos anos 80 e 90 a irreverência de Herman José chegou a chocar de frente com os bons costumes da época, em particular o sketch ‘A Última Ceia’, emitido na RTP1 em 1996, que motivou debates políticos, duras críticas da Igreja por “ridicularizar a fé dos cristãos” e até duas queixas anónimas na Provedoria de Justiça. Logo depois, Herman viria a criar o Diácono Remédios, caricatura ultraconservadora que interrompia os sketches sempre que eram cometidos “excessos”, uma crítica explícita ao ambiente moralista e censório que o humorista ainda via em Portugal. Mas não foram essas tensões que resultaram no único processo que o comediante teve em tribunal. “Tive um único problema [judicial]. Por ter usado a figura do Astérix sem pedir autorização numa rábula humorística inserida numa campanha da cerveja Sagres. A paixão pelo boneco fez com que me precipitasse”, recorda Herman, a convalescer de lesões no ombro e no tendão de aquiles após uma queda. A história desta polémica foi contada pelo Expresso em 1992: no anúncio, Herman aparecia vestido de Astérix e descrevia a bebida como uma poção mágica. Processado pelas Éditions Albert René pela utilização indevida da personagem, ganhou nas duas primeiras instâncias, mas o Supremo Tribunal de Justiça deu razão aos criadores do herói de banda desenhada e condenou-o a uma indemnização. “Era de €40 mil, mas a editora teve a imensa amabilidade em reduzir para €5000.”