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Ideias

Ouve-se e custa a acreditar

Luís Montenegro considerou na última reunião do Conselho Nacional do PSD que uma das razões para a atual crise política é a “popularidade do primeiro-ministro” e que os portugueses têm uma “apreciação positiva do líder do Governo”. Ouve-se e custa a acreditar. Não estamos no interior de um retrato camiliano da política portuguesa da segunda metade do século XIX, mas parece que daí ainda não saímos. Nas aldeias, vilas e cidades deste país devem estar a ser feitas subscrições públicas para a construção de estátuas ao dito líder. Como escreveu Moreira da Silva, “o que está a acontecer é penoso e revela muito sobre o país e o estado do PSD”. Há mais tempo disse Sá Carneiro que a política “sem ética é uma vergonha”. Precisamente para preservar, entre outros aspetos, a ética, se justificam, à margem da intervenção das autoridades policiais e judiciais, as comissões parlamentares de inquérito. Há julgamentos políticos que são independentes de condenações ou absolvições judiciais e das vitórias eleitorais não são legítimas também leituras de âmbito jurídico. O Estado de direito serve, nomeadamente, para evitar julgamentos na praça pública. Ainda que, em desespero de causa, muitos olhem para essa possibilidade como a única saída. Por muito esmagadora que seja uma vitória eleitoral não é ela que permite a obtenção de credibilidade ética. São planos muito diferentes, e é esta última, a ética, tal como defendia Sá Carneiro, que confere legitimidade à ação política e às vitórias eleitorais, não o inverso.