Nas últimas duas décadas, a União Europeia enfrentou dois enormes desafios, de natureza diferente mas de igual gravidade. A emissão de dívida conjunta, fundamental para ultrapassar a crise das dívidas soberanas bem como a compra e distribuição das vacinas covid de forma coordenada, que permitiu a contenção da doença na Europa, são dois bons exemplos da enorme vantagem para o conjunto dos povos europeus e para cada um deles da ação conjunta e a uma só voz. Só por pura ignorância ou cegueira ideológica, esta evidência não é reconhecida pelos inimigos da UE. A chegada de Trump à Casa Branca está a destruir os laços que garantiram os equilíbrios geoestratégicos e a paz depois da II Guerra Mundial. Nem mesmo os mais pessimistas se atreveriam a prever o que tem acontecido nos últimos dois meses. Admitir que pensa anexar o Canadá, a Gronelândia e o Panamá, afirmar que a UE foi criada para prejudicar os EUA e querer tornar a faixa de Gaza numa Riviera do Médio Oriente ultrapassa todas as linhas vermelhas do politicamente admissível na relação entre povos soberanos. Perante o cenário de três blocos mais ou menos bem definidos, a Rússia, a China e os EUA de Trump, a Europa tem duas opções. Parar o processo de integração como desejam Putin e Trump e os seus apoiantes, não para garantir falsas soberanias como prometem, mas sim para agradar aos seus tutores e senhores. Em alternativa, aprofundar o processo de integração, principalmente nas áreas em que ele é mais fraco ou inexistente, como nos domínios da Defesa e Relações Externas, nem que para isso a UE tenha de ser expurgada dos aliados de Trump e de Putin.