“Vamos ao mesmo funeral, mas nós, cartoonistas, estamos a morrer mais cedo”
António, cartoonista do Expresso desde a fundação, tem um resumo da sua vida em exposição no Museu do Neo-Realismo. Quando vai parar? Ainda não é hora, garante nesta entrevista
António não está otimista quanto ao futuro do cartoon e da imprensa. Diz que o meio mudou muito, depois que, a propósito de um desenho dele sobre Israel e os Estados Unidos, o “New York Times” proibiu os cartoons, uma decisão que foi replicada por outros jornais mais pequenos. Hoje, diz, mesmo em Portugal, a presença de cartoonistas nos jornais deixou de ser considerada essencial
O pai queria que fosse engenheiro, mas António Moreira Antunes fez-se apenas António. Há 50 anos que ganha a vida a desenhar, a brincar com o país, a espetar o dedo nas feridas mais fundas, fazendo-nos sorrir. Começou um mês e uma semana antes da liberdade chegar a Portugal e não mais parou, um percurso que está à vista em Vila Franca de Xira, onde nasceu há 71 anos. No Museu do Neo-Realismo, a exposição “50 Anos de Humores” resume a vida do cartoonista que estica os prazos de entrega, mas cumpre os limites do fecho do jornal. António, que com um desenho de Trump e Netanyahu acabou com a publicação de cartoons no “New York Times”, o benfiquista que prefere não conhecer previamente a manchete do Expresso para não se condicionar, o ateu que colocou um preservativo no nariz do Papa João Paulo II e que, vizinho do Sheik Munir, já foi almoçar com o líder da comunidade muçulmana em Portugal. Quando vai parar? Ainda não é hora, há muito mundo para desenhar.